Nelas: no coração dos vinhos do Dão

Entre as serras da Estrela, do Açor e do Caramulo, há um território que tem Nelas por centro e que produz néctares elegantes e harmoniosos. Os vinhos do Dão são excelentes acompanhantes de comida e esse casamento é potenciado pelas propostas de enoturismo na região.




Protegida dos agrestes ventos que vêm do mar ou que chegam de terras de Espanha pelas serranias que o cercam e banhado pelo Dão, o Mondego e o Alva, a região onde se produzem os vinhos do Dão tem um micro clima que potencia a qualidade das uvas que nascem em terrenos calcários. As serras da Estrela, Açor, Caramulo, Buçaco e Lousã permitem um clima marcadamente continental, com chuva e frio de inverno e muito calor de verão, mas sempre com as noites frescas.

É neste caldo geográfico que a Touriga Nacional e o Encruzado são as castas rainhas dos tintos e brancos, respetivamente. A Touriga Nacional, hoje espalhada por todo o território nacional tem aqui as suas origens. E o Encruzado, que permite brancos que sabem envelhecer, apenas aqui se encontra.

São estas duas castas, aliadas ao terreno predominantemente granítico, à proteção dos ventos e a um terreno de suaves declives e uma uniforme exposição solar que permitem a criação de vinhos elegantes e harmoniosos, considerados pelos conhecedores como néctares gastronómicos que casam muito bem com a comida e que há muito se fazem.

A Casa de Santar (um dos ícones dos vinhos do Dão) produz vinho há mais de 450 anos e os tintos produzidos nesta região são há muito apreciados, aventando-se até que o Infante D. Henrique o terá levado nas caravelas na conquista de Ceuta e que com ele se terá brindado à vitória. Com certeza, sabe-se que o Infante – que também era Duque de Viseu – organizou uma grande festa nesta cidade para preparar os ânimos para a expedição militar em que se consumiram “piparotes de malvasia e de vinho vermelho da região”, como o descreve Gomes Eanes de Azurara na sua “Crónica da Tomada de Ceuta por D. João I”. Não é pois de estranhar que a Região Demarcada dos Vinhos do Dão tenha sido a segunda a ser criada no país, em 1908, mais de dois séculos depois de o Marquês de Pombal ter avançado com a criação da primeira Região Demarcada do mundo: a do Douro.

Mas ao contrário do Douro, em que as vinhas marcam de forma indelével a paisagem e a transformam numa das mais bonitas do mundo no outono, no Dão as vinhas quase se não notam na paisagem, estando antes “escondidas” pelas sebes, pelo arvoredo e por outras plantações. Apenas a Casa de Santar tem uma grande vinha contínua com mais de 100 hectares, a maior de toda a região demarcada.

É nestes campos ondulados de colinas suaves que se escondem os vinhedos, alguns de caraterísticas únicas. Sónia Martins, enóloga e administradora do grupo LusoVini, fala do Encruzado, a principal casta para brancos do Dão que, afirma, “tem um potencial de envelhecimento muito grande, produzindo vinhos que aguentam 20, 30 e 40 anos”.

Osvaldo Amado, enólogo diretor do grupo Global Wines, não regateia nas palavras para dizer que o Dão “é um centro de produção de vinhos majestoso”, não se coibindo de afirmar ser esta “a grande região dos vinhos de Portugal”.

 

Enoturismo com vinhos do Dão

Não é por isso de estranhar que os produtores apostem hoje em dia no enoturismo e, na maior parte dos casos, casando-o com a gastronomia. Só no concelho de Nelas, temos dois bons exemplos disso mesmo. Mesmo à entrada da vila beirã, encontramos as instalações da LusoVini.

A adega é visitável 7 dias por semana e a visita não só é gratuita como quem entrar é recebido com um welcome drink. Sónia Martins salienta que este é um projeto em que se pretende “proporcionar experiências a quem queira conhecer melhor”. É por isso que aqui se possa circular por entre as imensas cubas de fermentação e pipos de envelhecimento e depois – ou antes – provar os vinhos acompanhados por petiscos ou mesmo uma refeição na bonita e excelente Taberna da Adega.

Também no Solar dos Cunhas somos surpreendidos pelo casamento dos vinhos com a comida, mas naquele que é um dos mais antigos solares da região a cozinha é de autor, desenhada pelo chef executivo de todos os restaurantes do grupo. Henrique Ferreira aborda a cozinha tradicional com uma elegância que surpreende a vista e o palato.

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