O túmulo de D. Manuel de Moura Manuel e a capela da Vista Alegre
A capela da Vista Alegre, em Ílhavo, alberga uma obra-prima do barroco: o túmulo de D. Manuel de Moura Manuel. Contrariando as regras do Vaticano, com profusão de pormenores e uma iconografia rica, o túmulo do bispo de Miranda é surpreendente.
Esculpido em pedra de Ançã pelo escultor francês Claude Laprade, o túmulo monumental de D. Manuel de Moura Manuel é de uma sensibilidade digna de se ver e denota um arrojo de modernidade para a época, os finais do século XVII.
Ao contrário das indicações do Vaticano, a estátua jacente do bispo não se encontra totalmente na horizontal com as mãos postas sobre o peito. Ao invés, a figura do bispo soergue-se do leito da morte e olha para a imagem da Nossa Senhora da Penha de França, a patrona da capela a quem era devoto. Com a mão direita a permitir o equilíbrio e a esquerda como que a começar um gesto a partir do peito, todo o movimento que a escultura imprime é de uma grande sensibilidade.
Ao avistar, no seu leito de morte, a Nossa Senhora da Penha de França, D. Manuel de Moura Manuel ergue-se para a santa e contempla a vida eterna, escapando assim aos braços da morte.
Todo o túmulo é de uma iconografia forte. Começa logo pelos dois leões de pedra que com dificuldade suportam o túmulo, indicando assim o peso da importância do defunto aqui sepultado. Ladeando o túmulo, surgem duas fénixes, em forma de carpideiras e, aos pés do leito da morte, um anjo que segura um crânio.
Sendo figura central do drama, a Nossa Senhora da Penha de França surge-nos em tamanho pequeno e descentrada, ao alto do lado direito de todo o conjunto monumental, para que o rosto de D. Manuel de Moura Manuel possa olhá-la de frente. A figura central é antes o tempo, apresentado como um velho, que está ladeado por dois anjos que levantam o véu da morte, permitindo assim ao bispo contemplar a vida eterna. No arco do conjunto estão esculpidas caveiras que ostentam chapéus representativos das mais elevadas classes sociais, numa clara mensagem de que não importa a importância que tenhamos em vivos, pois somos todos iguais perante a morte.
O túmulo de D. Manuel de Moura Manuel é uma obra-prima de rara sensibilidade e a mais importante peça da capela da Vista Alegre, assim conhecida por estar incluída no complexo do museu da bicentenária fábrica. Mas não é o único motivo de visita ao templo.
A capela de Nossa Senhora da Penha de França é um belo exemplo da arquitetura maneirista e do barroco. O seu altar-mor tem uma muito interessante representação do presépio e os tetos do espaço estão repletos de pinturas murais. O teto da capela-mor mostra-nos a Assunção da Virgem e o teto da nave da igreja a Árvore de Jessé. Na capela, destaque ainda para o conjunto de painéis de azulejos setecentistas de Gabriel del Barco, que representam cenas da vida da Virgem.
A beleza da capela surge-nos agora em todo o seu explendor, uma vez que foi objeto de um cuidado restauro em 2015.
A Capela da Vista Alegre ganhou este nome quando foi comprada em hasta pública pelo fundador da fábrica em 1816, que posteriormente edificou o solar que lhe é adjacente, hoje transformado no Hotel Montebello Vista Alegre Ílhavo. Na capela está também sepultado um dos filhos de José Ferreira Pinto Basto, vímita de acidente de cavalo. A família tinha acesso à capela através da janela do quarto do casal, que se abre ao nível do primeiro andar. Hoje, essa janela é parte integrante de uma das suites do hotel.
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Para se visitar a capela da Vista Alegre e conhecer o surpreendente túmulo de D. Manuel Moura Manuel há que visitar o Museu Histórico da Vista Alegre. O museu merece uma cuidada atenção. O visitante é recebido por um enorme forno que se impõe no átrio. Depois, é toda a história da fábrica, contada através das suas mais significativas peças, mas também lembrando a inovação de um complexo fabril que tinha bairro operário, escola, cantina e até um teatro para os operários.
Uma visita ao Museu Histórico da Bela Vista e à Capela de Nossa Senhora da Penha de França é obrigatória quando se andar pelo território de Ílhavo. Antes ou depois de uma refeição que pode ser de bacalhau ou não, mas que deve privilegiar os sabores do mar.