Vladivostok: o extremo oriente com sabor europeu
Vladivostok foi uma cidade interdita a estrangeiros até 1991. Situada no extremo oriente da Rússia é, no entanto, uma urbe de aparência e vivência europeia.
Sede da frota do Pacífico, Vladivostok era um porto estratégico no poderio militar soviético e por isso mesmo fechado a sete chaves. Até os cidadãos do país que agora é a Rússia tinham de conseguir uma autorização especial para se poderem deslocar àquela que é a capital do extremo-oriente russo.
Depois da queda da União Soviética, a frota conheceu um declínio de que, entretanto, recuperou e continua hoje a ser uma das principais forças navais da Rússia. No porto de Vladivostok não são muitos os navios que se deixam ver, mas, ao contrário de outros tempos, até há um miradouro com vista para os navios de guerra.
A história de Vladivostok
Vladivostok foi fundada em 1859 e ficou desde logo com o seu destino traçado. Como cidade mais próxima da Coreia, China e Japão, a sua importância geoestratégica é evidente.
Aliás, o próprio nome é todo ele um caderno de encargos Vladivostok pode ser traduzido por “governar o Leste”. O território foi comprado pela Rússia à China em 1858, na sequência da Guerra do Ópio. É, aliás, por isso que se disser Vladivostok na China ninguém sabe do que se trata. Os chineses adotaram a transliteração Fúlādíwòsītuōkè, mas muitos ainda conhecem a cidade do extremo oriente russo pelo seu nome tradicional: Hǎishēnwǎi, que quer dizer “desfiladeiros do pepino do mar”.
Estes nomes diferentes estão na origem da imensa dificuldade que tive na cidade chinesa de Harbin em arranjar meio de transporte para Vladivostok.
Estação terminal do Transiberiano
Vladivostok fica numa península fronteira à baía Zolotoy Rog. À noite, o sol põe-se no mar e pela manhã é no mar que se ergue. É como se oriente e ocidente se fundissem geograficamente, com o astro-rei como que a enganar-nos.
Vladivostok é a estação terminal da mais extensa linha de caminho de ferro do mundo. São 9.289 quilómetros. Tal é a distância entre Vladivostok e Moscovo pelo caminho-de-ferro, que se percorrem nos sete dias completos que o comboio leva a percorrer toda a imensa Rússia. É o mítico Transiberiano.
A estação é bonita, de tetos pintados. A praça fronteira é dominada por uma estátua de Lenine, em pose de quem está a discursar, dedo estendido a apontar o futuro. Mas a quem sai da gare parece estar a indicar o caminho de regresso. Aliás, dei de caras com a história em Vladivostok.
Os símbolos da guerra e da URSS em Vladivostok
Um dia depois de chegar assinalou-se mais um aniversário da invasão da Rússia pela Alemanha nazi e sou mais um no pequeno ajuntamento que vê a guarda de honra e os antigos combatentes orgulhosos das suas medalhas a depositarem uma coroa de flores frente à chama que arde eternamente no monumento aos mortos.
Nas paredes estão inscritos os nomes de 17.500 homens e mulheres naturais de Vladivostok que pereceram no conflito. No final da cerimónia, um pequeno grupo não dispersa, desfralda a bandeira do PC e exibe por breves momentos retratos de Lenine e de Stalin. Mas são muito poucos.
Verei depois na minha viagem pela Rússia que por todo o lado perduram os símbolos da União Soviética. Nos edifícios, na estatuária urbana e nos próprios nomes das ruas. Contudo, 30 anos depois de pela primeira vez ter visitado o país, comento com um amigo as diferenças que encontro apesar dos sinais que perduram. Ele tem as palavras certas para descrever as transformações:
— Não é um país diferente. É um outro mundo…
Vladivostok: uma cidade descontraída
Estou sentado a olhar para o bulício da bela gare de tetos pintados. Há casalinhos que trocam um beijo apaixonado; viajantes que chegam à última da hora.
A marginal de Vladivostok enche-se nos dias de sol As águas são frias, mas os habitantes de Vladivostok aproveitam-nas bem Arco do príncipe Nicholas
Passeio-me pelo centro histórico. Apesar do mau tempo dos últimos dias, Vladivostok recebe-me com um sol acariciador, que leva todos a sair à rua e a passear-se pela marginal ou a aproveitar todos os pedaços de praia existentes na cidade portuária.
Conheço o Arco do Príncipe Nicholas e a Praça Central, com o impressionante monumento aos soldados do poder soviético, e visito o Museu Marítimo e o Museu da Frota do Pacífico.
Vladivostok surpreende o viajante pelo seu caráter descontraído. Esperava uma cidade mais fechada, de edifícios cinzentões, e encontrei uma urbe bonita e agradável.