De D. Dinis a Manuel da Maia: um passeio por Redondo
Foram muitos os que deixaram a sua marca no tecido urbano de Redondo, mas a maioria o tempo tornou anónimos. Ficaram D, Dinis e Manuel da Maia, as casas medievais e as de agricultor, as igrejas e as tabernas; ficou a vida de uma terra com identidade que se descobre com calma e prazer.
Iniciemos a visita por cima, que foi onde tudo começou. Lá no alto do morro, D, Dinis mandou fortificar a povoação que lá havia e deu-lhe foral. A maior parte da muralha foi engolida pelo crescer da povoação Entremos pela Porta do Relógio ou do Postigo, um das imagens icónicas de Redondo, caiada de branco e com o relógio antigo a sobressair no conjunto. A porta, como a conhecemos hoje é um acrescento da época manuelina à muralha medieval. Do original sobressaem as duas torres que a ladeiam e que formam um todo harmonioso.
Redondo medieval
Estamos na Rua do Castelo, a única que existe dentro de muralhas. Vasos de flores enfeitam o empedrado, há portas ogivais e chaminés de escuta, que são grandes e com uma pequena abertura a meio para facilitar a circulação de ar mas que tem também a propriedade de permitir a quem esteja dentro, junto ao fogo, ouvir tudo o que se passava lá fora.
A rua segue até à Porta da Ravessa, a outra entrada no castelo de que todos já ouvimos falar por ser nome de vinho da Adega Cooperativa local e que verdadeiramente tem dois nomes: é a Porta do Sol quando recebe os primeiros raios matinais e da Ravessa quando fica na penumbra.
Olhando para as portas, lembramo-nos de que era por aqui que quem vinha de Évora, Alandroal ou Vila Viçosa era obrigado a passar por ordem régia. D. João I deu esta benesse às gentes de Redondo, numa altura em que a povoação definhava, por a vila se ter mantido a seu lado na Crise de 1383-1385. E é claro que todos os que passavam eram obrigados a pagar portagem.
Entre as duas portas, há que visitar a Olaria Mértola, de mestre Pintasilgo, e – sendo já horas – dar um salto até à Enoteca que funciona num belo edifício de arcadas que já foi o Celeiro do Povo. Provem-se os bons vinhos da região acompanhados por bons queijos e enchidos e pelos melhores amigos num espaço que pretende recriar as antigas tabernas alentejanas.
Ao lado do pequeno largo do que até há muito pouco tempo foi o hospital concelhio está a Torre de Menagem do castelo de Redondo. É um edifício seiscentista e foi construído por ordem de D. Afonso V e concluída já no reinado de D. Manuel I.
Um pouco mais acima, está a igreja e convento de Santo António da Piedade, cuja parte traseira foi recentemente adaptada para aí se instalar o Museu do Barro que merece visita atenta.
Subamos de novo e voltemos a olhar para a Porta do Relógio. Estamos na praça D. Dinis e à nossa frente fica a Igreja Matriz de Redondo e entre esta e a porta uma antiga hospedaria que já ali estava no século XVI. Na matriz destaca-se a talha dourada do retábulo e os azulejos de temas bíblicos, ambos do século XVIII. Esta é a única igreja de Redondo visitável e, encontrando-se gente, peça-se para se conhecer o museu que tem no seu interior.
Do outro lado, estão o Ti Chica e A Torre. N’A Torre podemos ficar pelo café e ouvir as histórias dos mais velhos da terra, ou entrar para o restaurante e agradável esplanada e provar a comida tradicional. No Ti Chica, poder-se-á optar pela comida alentejana ou pelos sabores asiáticos, que um dos sócios é paquistanês.
Descemos em direção ao “Rocio Largo” por contraponto ao “Largo Velho” como era chamada a praça que deixámos para trás. Vamos pela Rua 5 de Outubro. Esta é uma rua onde vão surgindo as Casas de Lavoura – habitações ricas, de grandes janelas, pormenores de trabalho em estuque e os vasos coloridos colocados nas fachadas que eram sinal de riqueza. Mas poderíamos ir por qualquer uma das outras artérias, que o panorama seria em tudo semelhante.
A Praça da República
Vamos dar ao pequeno Largo 25 de Abril onde, em sendo tempo, temos esplanadas. Se virarmos à esquerda, os nossos passos levam-nos até ao Centro Cultural de Redondo e ao Café Concerto, o centro da animação noturna da vila. Se for hora de comer, pode-se fazê-lo no “O Celeiro do Pinto” e provar umas ‘migas gatas’ ou um ‘miolo de tomate’. Se optarmos por rumar à direita, encontramos na rua Mouzinho da Silveira “O Engaço”, que por todos é conhecido pelo nome do proprietário. “Vamos ao Serafim?” pergunta-se na terra quando se procura um petisco numa taberna alentejana e, quem sabe, ouvir o cante que é tradição por estas terras.
Mas se no Largo 25 de Abril seguirmos em frente desembocamos na Praça da República, a mais monumental da vila, dominada pelo edifício da Câmara Municipal. Fiquemos por aqui, pelo “Rocio Largo”, algum tempo. Olhemos para a Câmara, um edifício de traça clássica, do século XVIII. Esta foi a última obra do engenheiro Manuel da Maia antes de ser chamado pelo Marquês de Pombal para a reconstrução de Lisboa.
A praça, como a vemos hoje, é fruto da intervenção desenhada por Formosinho Sanchez nos anos 70. O arquiteto convidou os artistas plásticos João Vieira e Eduardo Nery para colaborarem. João Vieira fez o monumento ao lado do tribunal – assinado pelo mesmo arquiteto mas muito pouco interessante – e Eduardo Nery o desenho de calçada portuguesa de todo o largo. Só há uma outra praça com trabalhos dos dois, a do Município em Lisboa, nos anos 90. A um dos cantos da praça, foi colocada a antiga fonte do Largo dos Castelos, em Évora, a que se acrescentou um espelho de água. Aproveitemos aqui estar para conhecer o Museu Regional do Vinho.
Em Redondo, subamos até à Igreja de São Pedro. Estamos no extremo norte da vila e daqui temos uma outra vista sobre o casco urbano. Para a nossa direita, fica o Coliseu – a antiga praça de touros reconvertida em sala multiusos e o jardim público. Apreciemos as vistas e desçamos. Se quiser comer algo que não encontra em nenhum outro lugar, sugerimos que desça até ao “O Marujo” e prove o Calducho. Mas tem de ser outono ou inverno, que o poejo fresco é condimento essencial.
A reportagem do Portugal de Lés a Lés no concelho de Redondo teve o apoio da Canon Portugal