Molinológico de Ul: museu vivo do moinho e do pão
Descemos a ladeira que liga o Largo do Souto ao já conhecido Parque Temático Molinológico (PTM) de Ul… uma ‘Aldeia de Portugal’, que antes de o ser já o era… Pelo menos uma das mais lindas do concelho de Oliveira de Azeméis.
Por estas paragens, usos e costumes andam de mãos dadas com o quotidiano e as tradições de uma ruralidade que se pretende respeitada e sentida. A faina agrícola estende-se no tempo e o povo perpetua os valores da terra, enraizados na riqueza hídrica, que por ali corre e põe a funcionar, há séculos, moinhos de água que nos fazem recordar moleiros e sacos de farinha, padeiras e pão… sim, pão – o de Ul, único de sabor e textura distinta.
Transpondo outras margens
O silêncio é marcado pelo chilrear de passarada miúda e pelo correr das águas do rio. Ouvimos os nossos próprios passos e o coração salta a cada imagem marcante que, logo dali, se visiona. O núcleo de um casario branco, recuperado, as mós e os moinhos, e aquela ponte – sim, aquela ponte – transportam-nos para ‘outras margens’, onde parece que só ‘almas boas’ descansam, transmitindo-nos a paz de um mundo que já quase desconhecemos.
Captámos um postal ilustrado vivo, brilhante à luz do sol, entrecortado pelo fumo da chaminé do forno a lenha, no qual já se coze o pão e as regueifas de Ul. Aproximamo-nos das estruturas que foram recriadas, reconstruídas, restauradas e que nos permitem desfrutar de um verdadeiro museu do moinho e do pão. Aqui e ali, mós de pedra dão-nos as boas-vindas num panorama que se abre, de par em par, aos nossos olhos e sentidos.
Um cenário sublime com cheiro a pão acabado de cozer
Num dos topos do núcleo principal (Ponte da Igreja) do PTM ergue-se, em esplanada, o bar de apoio, um pequeno cafezinho que cheira a pão acabado de cozer. Dali mesmo divisamos um outro espaço, que nos atrai a atenção e nos atiça o desejo de descer ainda mais próximo do rio. Um parque de merendas, com as suas enormes mesas e bancos de madeira tosca, convida-nos ao ócio, à quietação. Sentados, costas voltadas para o largo troço de água sussurrante, que corre sem parar por entre pedras e repuxos, nos quedamos, espreguiçando-nos ao sol.
O cenário que se abre à nossa frente faz-nos recuar novamente um ou dois séculos: os moinhos estão agora recuperados, mas ainda moem os cereais para que o passado de Ul não seja esquecido; o núcleo museológico guarda as recordações das alfaias e das vivências para que as suas gentes não sejam olvidadas.
Absortos em mil histórias a formatar na mente, somos surpreendidos pela simpatia de Catarina Ramalho, que, sempre disponível, nos fez as ‘honras da casa’ em visita guiada ao PTM. E ela conta-nos pormenores… para que o Portugal de Lés a Lés registe.
Os três núcleos do parque molinológico
“O Parque Temático Molinológico é um espaço que aproveita os moinhos de água existentes nesta região. São construções também conhecidas por moinhos de rodízio horizontal e eixo vertical, uma vez que a roda ou conjunto de penas gira na horizontal e a peça através da qual se transmite o movimento às mós encontra-se na posição vertical”. O PTM “pretende ser um ‘museu vivo’ das estruturas da confeção do pão e de moagem de cereais, uma atividade com mais de 200 anos de existência. Além de um lugar agradável e de apetência turística, assume-se como um espaço didático e de conhecimento para as crianças e jovens das escolas. Localiza-se nas freguesias de Ul e Travanca, a sul da sede do município de Oliveira de Azeméis, e já abrange também a freguesia de Loureiro”, ocupando uma área de 29 hectares, em espaço totalmente aberto, incluindo dois rios, o Antuã e o Ul, seu afluente.
Este núcleo [Ponte da Igreja] é um dos principais e “procura recriar todo o percurso associado às atividades da secagem, moagem de cereais e ao fabrico do pão, podendo os visitantes assistir, ao vivo, à moagem dos cereais e às padeiras a confecionarem o tradicional pão de Ul”. A nível museológico, “há ainda espaço para conhecer as alfaias associadas a este tipo de artes e uma zona multimédia”.
Um outro núcleo [de Adães] “está direcionado para a indústria do descasque de arroz que foi a evolução do declínio da primitiva moagem de cereais”. Um terceiro (do Crasto – Dois Rios), localizado na freguesia de Travanca, “aproveita a frente ribeirinha para o desenvolvimento de ações de educação ambiental e de atividades lúdicas e de lazer”.
Uma ‘Aldeia de Portugal’ para visitar
A importância de Ul, em termos turísticos, não se restringe ao Molinológico. Muito há para visitar. Desde logo, bem no ‘coração’ da localidade, a sua igreja, consagrada a Santa Maria, alberga a fé dos ulenses. Outros santos fazem parte da grande devoção de um povo rural e, marcadamente, religioso. O São Brás e a Nossa Senhora das Candeias são também muito celebrados e, em fevereiro, atraem a esta terra centenas de forasteiros.
Alminhas e cruzeiros relembram antepassados longínquos, tempos perpetuados por uma etnografia tão valorizada pela população, que a ostenta e mostra ao mundo. Espigueiros, desfolhadas, rotas pedestres – ‘Rota dos Moleiros’ e a ‘Rota dos Padeiros’ – aliam-se a marcos históricos, como o castro, a mamoa da Baixa, as capelas de Adães e de Nossa Senhora das Febres, as várias alminhas e outros registos arqueológicos e patrimoniais.
A localidade de Ul, em Oliveira de Azeméis, já está classificada como ‘Aldeia de Portugal’, um galardão com as insígnias da Associação de Turismo de Aldeia, que, neste caso, abrange um território de cerca de 498 hectares.
‘Há Festa na Aldeia’ encerra em Ul
De há uns quatro anos a esta parte, um projeto dinamizador das localidades rurais tem animado também Ul, num fim de semana de setembro. O ‘Há Festa na Aldeia’ percorre as aldeias de Vilarinho de S. Roque (Albergaria-a-Velha), Burgo (Felgueiras) e Areja (Gondomar), e, como tem acontecido até agora, encerra nesta terra de Azeméis.
Depois das aldeias de Vilarinho de S. Roque (Albergaria-a-Velha), Burgo (Felgueiras) e Areja (Gondomar), chega a vez de Ul receber o projeto ‘Há Festa na Aldeia’. O Parque Temático Molinológico converte-se num enorme arraial, chamando a si milhares de oliveirenses, forasteiros e turistas.