A lenda de Nossa Senhora de Balsamão e dos Cavaleiros das Esporas Douradas – Macedo de Cavaleiros

Onde se conta como um punhado de cristãos derrotou um cruel rei mouro e as suas gentes, com a ajuda da Nossa Senhora de Balsamão.




Por alturas dos séculos IX e X, no virar do primeiro milénio depois de Cristo, eram as terras do que é hoje Portugal povoadas por gentes de diferentes credos e crenças.

Nessa ocasião existia, na Serra de Bornes, no Monte do Carrascal, a 12 km de Macedo de Cavaleiros, um povoado mouro onde havia uma mesquita e um castelo governado por um emir cruel de nome Abdel-Ali.

O emir era tirano e despótico. Tinha um ódio feroz aos cristãos das vizinhanças e não perdia ocasião de os humilhar com regras e leis injustas.

Muito sofriam estes cristãos, suportando a ira constante do opressor e os agravos que dela resultavam. Secretamente, murmuravam contra ele. Mas, aos rumores de revolta, respondia o vilão que aos murmuradores, se cortavam as línguas!

Foi neste estado de coisas que Abdel-Ali, nunca satisfeito com o aviltamento que infligia aos vassalos, resolveu instituir como lei o “Tributo das Donzelas”, que consistia na obrigação de as noivas passarem a noite das suas núpcias no harém do feroz mouro, sendo ele o primeiro a deitar-se com elas.

Levantaram-se logo mais vozes descontentes contra esta nova afronta, principalmente por parte dos jovens em idade de casar. Mas como alterar mais uma injustiça, sendo poucos e mal armados?

O dia do casamento passou então a ser um suplício para aquelas gentes e podemos até imaginar que muitos iam adiando a data para não pagar tão vil preço pela felicidade conjugal.

Foi então que se marcou a data de casamento de Casimiro, um jovem cristão da vizinha localidade de Alfândega, que era filho de D. Pedro Rodrigues da Malafaia, chefe de um grupo de guerreiros a quem chamavam Cavaleiros das Esporas Douradas. A noiva era também cristã e muito devota de Nossa Senhora. Chamava-se Teolinda e era filha de outro importante chefe da zona, D. Rodrigo Ventura de Melo, Senhor de Castro (Castro Vicente, hoje freguesia do concelho de Mogadouro).

Casimiro recusou-se logo a cumprir o infame tributo das donzelas e conseguiu juntar um grupo de rebeldes para lutar contra o emir. Teolinda prometeu então à Virgem, que, se escapasse daquela desonra, mandaria erguer uma capela em sua honra.

Alguns dizem que o noivo se dirigiu ao opressor com um grande véu, disfarçado de noiva. Outros dizem que o tirano mouro, sabendo que se preparava uma revolta, foi ao encontro dos insurgentes. O que parece ser certo é que a luta entre as duas partes se iniciou no campo de Chacim e foi dura e terrível.

A inferioridade numérica dos cristãos fez com que, rapidamente, começassem a perder terreno. Não desistiam, isso nunca, mas iam tombando, feridos e exaustos, rodeados pelos mouros que eram mais que muitos.

Eis então que, no meio dos que combatiam, surge uma luz que aumentava gradualmente. E os cristãos viram que estava ali Nossa Senhora e que esta segurava na mão um vaso de bálsamo que aplicava nas feridas. E a Senhora animava-os enquanto os tratava:

– Cara aos mouros, cara aos mouros!!!!!!

As feridas então sararam, as dores passaram e os cavaleiros avançaram de novo contra os infiéis estupefactos. E o fim do combate logo se decidiu.

O emir foi morto, assim como muitos dos seus guerreiros. O castelo mouro foi incendiado e arrasado e a mesquita destruída.

Limpo o campo de batalha e, como Teolinda (entretanto já casada com Casimiro) havia prometido à Virgem, mandou-se erguer, sobre os restos da mesquita, uma ermida em honra da Nossa Senhora do Bálsamo na Mão, que ao longo dos tempos se transformou em Senhora de Balsemão ou Balsamão. Aí se realiza uma Romaria a 25 de Março.

O local da batalha passou a chamar-se Chacim (significando porco ou suíno), advindo o nome da chacina que aí decorrera.

Diz-se também que pela valentia demostrada pelos Cavaleiros das Esporas Douradas de Alfândega esta povoação mereceu a honra de se chamar Alfândega da Fé.

Junto à Ermida da Senhora de Balsamão, existe ainda o Convento do mesmo nome, com origens na primeira metade do século XVIII, que é hoje pertença da Congregação Mariana da Imaculada Conceição. Aí funciona também uma casa de retiro e repouso.

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