Kayaköy: a aldeia fantasma

A aldeia fantasma de Kayaköy é um estranho local, que nos transporta até à história recente da Turquia.

Localizada perto do centro balnear de Fethiye, a aldeia de Kayaköy é um fresco da história da Turquia do século XX e do surgimento da República Turca. Quem percorre as ruas desertas e entra nas casas, tem a perfeita noção de que o local hoje fantasmagórico já foi uma aldeia vibrante de vida.

Kayaköy: uma comunidade vibrante

São cerca de 500 casas e duas igrejas ortodoxas que albergavam uma população de mais de 10.000 almas. Muçulmanos e cristãos conviviam pacificamente, participando nas atividades de ambas as comunidades. Kayaköy era uma comunidade próspera.

Os muçulmanos eram fundamentalmente agricultores e os cristãos eram artesãos. As duas comunidades apoiavam-se, comprando os artigos uma da outra e músicos muçulmanos participavam nas festas dos cristãos.

No início do século XX, Kayaköy era uma comunidade pacífica e vibrante e tinha dois nomes. Os muçulmanos chamavam-lhe Kayaköy e os gregos ortodoxos davam-lhe o nome de Livissi, ou Lebessos, em grego antigo.

Mas depois veio a guerra greco-turca e as decisões políticas. E Kayaköy conheceu um fim abrupto.

A guerra greco-turca

No rescaldo da 1ª Guerra Mundial, a Grécia pretendia ocupar partes do Império Otomano, mas os revolucionários do Movimento Nacional Turco, liderados por Kamal Ataturk, conseguiram vencer nas três frentes.

Com esta vitória, forçaram a comunidade internacional a reconhecer a República Turca, tendo sido assinado o Tratado de Lausanne, que não apenas reconhece a nova república, como o seu controlo sobre a Anatólia, disputada com a Grécia.

O destino da Kayaköy

Após a guerra greco-turca de 1919-1922 que terminou com a vitória do movimento de Kamal Ataturk e com o reconhecimento da República Turca, cerca de 900.000 cristãos gregos ortodoxos abandonaram a Anatólia e refugiaram-se na Grécia, tendo existido também um movimento contrário.

A troca de populações foi mesmo reconhecida em tratado entre os dois países, que se basearam em critérios religiosos para promover a deslocação daqueles que ainda não tinham fugido.

Em Kayaköy, após a saída dos seus habitantes, as casas não voltaram a ser ocupadas num sinal de respeito dado pelos vizinhos que tinham ficado e foram-se degradando até terem sido afetadas pelo tremor de terra que sacudiu Fethiye em 1957.

Kayaköy: museu a céu aberto

Hoje, Kayaköy é um museu a céu aberto, preservado para fazer pensar. É frequentemente afirmado que foi declarada pela UNESCO uma das aldeias da paz e da amizade, mas uma busca pelo site da organização das Nações Unidas não o permite verificar.

É provável que tal tenha sido dito pela primeira vez por um guia local e replicado em blogs e guias online. Mas – como dizem os italianos – senão é verdadeiro, é bem pensado.

Kayaköy é – digo eu – um monumento a duas caraterísticas da Humanidade: à estupidez da guerra e à solidariedade de quem ficou.

Visitar Kayaköy é uma experiência inolvidável. No entanto, são poucos os que lá vão. Quando entrei neste museu a céu aberto, era a única pessoa que percorria as ruas por entre as ruínas.

A solidão combina bem com a aldeia fantasma que hoje homenageia uma comunidade que era vibrante.

E não é por ser difícil chegar. Quem vai a Fethiye procura fundamentalmente as praias e as águas temperadas do mar Egeu. Mas da cidade, partem com regularidade autocarros que passam em Kayaköy.

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