Vila de Rei pela objetiva do fotógrafo André Farinha

André Farinha é um dos mais promissores fotógrafos de paisagem portugueses, tendo visto o seu trabalho já reconhecido internacionalmente. A viver em Vila de Rei desde miúdo, traz-nos aqui o seu olhar sobre o território daquele que é o concelho mais central de Portugal.




As fotografias de paisagens nocturnas de André Farinha são autênticos poemas. Searching Life, aquela com que em 2015 concorreu ao Sony World Photography Awards foi considerar pelo prestigiado Huffington Post como uma das 15 mais deslumbrantes fotos de natureza daquele ano.

O trabalho de André Farinha já conquistou reconhecimento internacional
André Farinha, fotógrafo de Natureza

A fotografia apareceu já tarde na vida de André Farinha, 26 anos, mas quando a paixão pelas fotos de paisagem chegou veio para ficar. Natural de Lisboa, mudou-se para Vila de Rei aos 9 anos por causa da asma. A sua família foi então viver para o centro do país, onde tinha raízes, e a doença ficou na capital e nunca mais o incomodou.

Aos 18 anos ingressou como voluntário na Força Aérea para ser meteorologista e como homem do tempo esteve a viver nos Açores. Foi lá que a fotografia apanhou André Farinha, de tal forma que o ano passado decidiu tornar-se fotógrafo profissional e viajante.

Em outubro, pegou numa carrinha Kangoo e fez-se à estrada rumo à Suécia. Em 9 meses fez 40.000 quilómetros e visitou 21 países. Fundamentalmente, fez deslumbrantes imagens de paisagens e preparou roteiros para futuras photo trips. E como não consegue estar parado, em outubro prepara-se para arrancar de novo em direção à Holanda. Se entretanto começar a ver na conta do Instagram de André Farinha fotos de Marrocos é porque André Farinha pegou na sua mota e foi até ao norte de África.

Quando lhe pedimos para definir Vila de Rei rasga um sorriso e diz: “Vila de Rei é a minha casa!”, depois, mais a sério, André Farinha afirma: “Não temos o melhor mas também não temos o pior. Temos locais muito interessantes que vale a pena conhecer. O potencial está cá mas tem de ser melhor explorado”.

É um privilégio termos no Portugal de Lés a Lés as sua fotos e textos. Vale a pena conhecer Vila de Rei pela objetiva deste que é um dos mais promissores fotógrafos de paisagem portugueses.

Tem a palavra André Farinha:

Heading North (Apontar a Norte)

Apontar a Norte
Heading North ©André Farinha

“WOOOW” é o que a maioria das pessoas diz ao ver pela primeira vez uma fotografia “Startrail”.
A Startrail é, nada mais nada menos, que uma fotografia de longa exposição que capta a rotação do Planeta Terra, criando assim um arrasto das estrelas que vão mudando de posição enquanto o Planeta azul gira sobre o seu próprio eixo a 1700km/h.

Já ouviram falar da estrela do Norte? Aquela que os marinheiros do tempo de Camões utilizavam como um ponto de orientação? Essa estrela está representada nesta fotografia, é a única estrela que nunca se movimenta enquanto o nosso planeta roda.

É incrível olhar para a mesma estrela que esses nossos descobridores utilizavam como meio de navegação, tão rudimentar à beira dos nossos telemóveis com GPS.

Aqui no ponto mais Central do País, onde quase conseguimos observar a curvatura do planeta num angulo de 360º, eis que surgiu a oportunidade de fotografar a rotação da Terra durante 1H50.

Este é um tipo de fotografia que exige alguma experiência e muita paciência, paciência essa que se adquire ao viver longe do stress dos grandes centros metropolitanos.

Ao centro, um bem haja 🙂

Hypnosis Fire (Fogo Hipnótico)

Fogo Hipnótico
Hipnosys Fire ©André Farinha

Qual a maior vantagem de viver no centro do país?

Bem, essa é uma pergunta que para muitos pode ser difícil de responder mas que para mim é tão fácil como “Paz de corpo e alma”.

Sabe tão bem viver junto daquela a quem chamamos de Mãe Natureza, valorizar todo o ser vivo que nos rodeia, apaixonar-nos pelo som do vento e da chuva, podermos observar o céu da noite como se estivessemos fora da atmosfera do nosso Planeta Azul, sem filtros, sem preocupações.

Esta foi uma noite em que alguns desses afortunados que vivem no centro de Portugal decidiram ir dormir ainda mais perto da Natureza, acenderam uma fogueira junto a um ribeiro que ali ao lado passava e deitaram-se com a cabeça fora da tenda.
Para alguns é preciso “contar carneirinhos” para adormecer, já para estes jovens bastou contar todas as estrelas cadentes que iam vendo a rasgar o céu.

Just a Kiss and Say GoodNight (Um Beijo e Boa Noite)

Um Beijo e Boa Noite
Just a Kiss and Say Goodnight ©André Farinha

Foi aqui que, no Centro Geodésico do País em Vila de Rei, ao estar a regressar a casa após uma semana de trabalho na capital, começo a vislumbrar com o cair do dia umas cores intensas no céu, imprimindo-as também no solo e o que tudo nele se encontra.

Foi um dos Pôr-de-Sol mais bonitos e intensos que alguma vez vi, criando um céu extremamente dramático e super apelativo para a fotografia.

Ao chegar ao topo da montanha mais alta do concelho começo a procurar por um enquadramento que me cativasse e foi então que descobri que o banco e as suas ripas de madeira me iriam dar um enquadramento mágico para este cenário.

As tábuas do banco dão-me as linhas necessárias para guiar o olhar do visualizador até ao marco geodésico e assim divergir para o céu dramático.

Sabe tão bem viver no centro!

Night Explorers (Exploradores Nocturnos)

Exploradores Nocturnos
Night Explorers ©André Farinha

Foi numa noite fria de Inverno, quando as cascatas do concelho mostram toda a sua brutalidade e esplendor, que eu e mais dois amigos resolvemos percorrer parte do trilho das cascatas sob a intensa luz da lua cheia.

Uma boa noite de fotografia nunca é uma boa noite se algum imprevisto não acontecer, e foi ao contornar o pequeno lago que se forma no final da cascata que, ao colocar um pé num pequeno tufo de erva, escorrego e caio nas águas pouco profundas mas gélidas.

Felizmente todo o equipamento fotográfico estava protegido, no entanto eu, pouca era a roupa que não estava molhada.

Aproveitei assim o facto de estar encharcado até eu osso e procurei por uma perspetiva dentro de água que permitisse um olhar invulgar e que conseguisse retratar todo o cenário envolvente desta noite.

Foi então que encontrei um canto que me possibilitava captar a cascata, a lua, algumas estrelas e os meus amigos a vislumbrarem a força com que a água caía.

Durante este processo coloquei uma lanterna nas costas dos mesmos para destaca-los neste ambiente escuro e criar uma boa dinâmica na fotografia.

Old Rocky Village (Velha Aldeia de Pedra)

Velha Aldeia de Pedra
Old Rocky Village ©André Farinha

Quando me perguntam qual a aldeia de que mais gosto no concelho de Vila de Rei, é impossível não pensar e falar na “nossa” aldeia de Xisto, a aldeia da Água Formosa.

Este é um local harmonioso, de paz e Natureza.

Lá encontramos pessoas genuínas, aqui da terra, que conhecem cada recanto da zona Centro, que mesmo não nos conhecendo é certo que conhecem os nossos avós e bisavós e que se orgulham afincadamente de viver naquele que é o concelho que melhor qualidade de vida oferece no distrito de Castelo Branco.
O meu objetivo nesta fotografia panorâmica não era retratar as famosas casas de Xisto, aquele que é Património Natural de Portugal, mas sim poder demonstrar uma visão geral sobre a aldeia, conjugando o céu estrelado que por lá podemos encontrar, com ou sem poluição luminosa.

Aliás, qualquer tipo de poluição, por estes lados é visto quase como um mito.

Paths of Milky Way (Caminhos da Via Láctea)

Caminhos da Via Láctea
Paths of Milky Way ©André Farinha

A icónica ponte dos 3 concelhos.

Esta ponte romana simboliza a fronteira entre o concelho de Vila de Rei, Sertã e Mação, um ponto comum e turístico destes municípios.

Nesta noite de Verão resolvi sair de casa, sozinho, já os ponteiros do relógio passavam da meia noite.

Do lado do concelho mais central do país, fotografei a ponte com a nossa via láctea a “sobrevoar” a mesma, com toda o sua misticidade e brilho, um céu onde o escuro não prevalece, pois aqui conseguia observar as mais ínfimas estrelas presentes na nossa galáxia.
Nesta noite comprovei que vivemos num espaço onde não somos ninguém, somos parte de um sistema muito mais vasto do que as nossas mentes conseguem imaginar.

Somos tão pouco mas ou mesmo tempo somos tanto.

Bem dita seja aquela poeira estelar que de nós fez vida.

The Dusk (O Crepúsculo)

O Crepúsculo
The Dusk ©André Farinha

Reza a lenda que algures entre o Penedo Furado e a Lapa do Aivado um lindo Bezerro dourado está enterrado.

Neste final de tarde não fui em busca do Bezerro Dourado mas sim de uma luz que me faz lembrar um dos bens mais preciosos do nosso Planeta.

Este é o ouro que eu prefiro perseguir, aquela luz dourada que o sol produz na nossa atmosfera no inicio da manhã e no final do dia.

É tão relaxante poder estar isolado do mundo, sentir o vento a percorrer a cara, quase que como o Planeta estivesse a respirar, ver os pássaros voar, as nuvens a modificarem-se, o sol a aquecer-nos com os seus últimos raios solares e a pintar o céu com cores vivas.

Quem me dera ser tão bom pintor como ele…

Water Don’t Stop to Breathe (A Água Continua Viva)

A Água Continua Viva
Water Don’t Stop to Breathe ©André Farinha

Este é um local que para mim, como fotógrafo e principalmente como Vilarregense, tem um toque especial.

É uma das mais emblemáticas cascatas do concelho de Vila de Rei, que fica situada junto à povoação do Escalvadouro.

Esta cascata, com cerca de 10 metros de altura, oferece inúmeras perspetivas, algumas delas de difícil acesso mas de um nível de satisfação incomparável.

Para a realização da fotografia utilizei um filtro ND Variável para conseguir um movimento fluido na água, criando os famosos “cabelos de princesa”.
Esta é uma técnica muito utilizada pela maioria dos fotógrafos de Paisagem e Natureza.

(Os textos explicativos das fotos são todos de André Farinha)

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