Rally Vinho do Dão: uma prova com sabor intenso
Nelas recebeu a 4ª edição do Rally Vinho do Dão. Durante dois dias, milhares vibraram com a prova que percorre as ruas da vila e as serranias e vinhedos do concelho. Muitos forasteiros rumaram ao concelho beirão para uma prova que já se está a tornar um clássico e que ganha corpo com o passar dos anos. Ou não estivessemos no coração da Região Demarcada do Dão.
A Touriga Nacional é nestas paragens a rainha durante 363 dias do ano. Nos outros dois, são os cavalos de potência e a perícia dos pilotos que fazem a diferença. No fim-de-semana de 26 e 27 de maio, o rugido dos motores sobrepôs-se aos sons bucólicos das vinhas e dos bosques das terras de Nelas.
Santar é nome grande no roteiro dos vinhos do Dão, com várias quintas a produzirem nectares de truz, mas no domingo passado foi palco de uma especial do rally. Numa das estradas que circundam a maior área de vinha de toda a região demarcada, os 27 bólides que se apresentaram à partida circulavam a toda a brida. Numa curva fechada, o burburinho da multidão aumentava quando se começavam a ouvir os rugidos do motor e explodia no momento em que os pilotos atacavam o gancho. Um cenário humano muito semelhante ocorria em todas as zonas espetáculo das 8 classificativas.
Mas a mais impressionante das molduras humanas aconteceu na Super Especial Vinho do Dão. Em plena vila, ao cair da noite, milhares emolduraram o percurso de 1,87 km para ver e ouvir as máquinas e ovacionar os pilotos quando atacavam as rotundas e a pirotecnia disparava. Eram aficionados, curiosos e famílias inteiras a vibrar com a apresentação da prova.
Logo pela manhã, a zona do salto no troço Algeraz – Quinta da Cerca começa a encher-se de gente. As conversas vão fluindo. Há gente de fora e também muita de perto. O sr. Figueiredo vai dizendo da sua experiência a quem o quer ouvir. Toma frequentemente o estradão para poupar uns quilómetros a caminho do trabalho. “De vez em quando dou gás aqui com a carrinha e este segundo salto é muito complicado”, afirma. Passado um quarto de hora, a passagem dos pilotos dá-lhe razão. São dois saltos em sequência; o primeiro a seguir a uma grande reta. Quando os carros tocam no chão têm logo à frente o segundo, mas abrupto e irregular. É aqui que Carlos Fernandes (o vencedor do Rally Vinho do Dão) e Fernando Peres (ex-campeão nacional absoluto) fazem os seus Mitsubishi Evo voarem autenticamente para gáudio da multidão.
Das encostas do Mondego nas Caldas da Felgueira aos vinhedos de Santar, o percurso do Rally Vinho do Dão é um hino às paisagens beirãs que produzem o vinho e o queijo da serra, dois produtos de excelência dos amantes da boa mesa. As gentes de Nelas sabem receber e essa é uma das razões pela qual os pilotos gostam desta prova. À gastronomia e cordialidade das gentes, junta-se o percurso.
“Este é um rally diferente de todos os outros”, afirma o piloto Bruno Santos: “O piso é único. É de granito e apenas o podemos ver também em Fafe, os troços estão num estado impecável. É bom ver que as autarquias têm um papel fundamental porque nos poupam muito material num desporto que é excessivamente caro para as nossas bolsas. O rally é muito bonito e bem organizado e as paisagens são fantásticas”.
A 4ª edição do Rally Vinho do Dão foi vencida por Carlos Fernandes, que dominou todas as classificativas à excepção de uma ganha por Fernando Peres, que terminou na segunda posição. O pódio ficou completo com Rui Mendes, em Toyota Corolla.