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7 objetos com história entre Castro Laboreiro e Melgaço

Traje castrejo

Do planalto a 1.200 metros de altitude ao vale do rio Minho, este é um território surpreendente e com muito que contar. Entre Castro Laboreiro e Melgaço, contamos a história de 7 objetos que nos ajudam a melhor conhecer o concelho mais a norte de Portugal.




Da necrópole megalítica ao museu do cinema, do fato castrejo ao castelo de Melgaço, do vinho Alvarinho ao contrabando, são muitas as histórias que se cruzam e os objetos que as simbolizam. Escolhemos 7 objetos que contam histórias entre Castro Laboreiro e Melgaço.

1. O fato castrejo

O tradicional fato da mulher castreja ainda hoje é vestido pelas mais velhas da remota aldeia serrana de Melgaço. Em Castro Laboreiro, quando o frio se instala, põem a capa à cabeça e, sempre agarradas ao cajado, tornam-se pontos negros nos campos do planalto ou nas encostas da Serra da Peneda.

O traje castrejo é quente, feito de burel e lã de ovelha, que por aqui não se compra nem se vende, apenas se troca havendo em demasia. Quando novas ou em dias de festa, permitem um toque de cor no negro carregado que todos os dias carregam. A camisa pode então ter um tom de vinho ou um verde, mas sempre escuros. A alegria da cor fica escondida e só quem a veste sabe que a tem.

Quando os maridos emigravam, ou o luto se fazia, as mulheres vincavam ainda mais o negro. Viúvas de Vivos, chamou-lhes José Cardoso Pires e o nome ficou.

A peça mais peculiar são os calções. Esta espécie de alpercatas é sempre branca e feita de lã grossa de ovelha, tendo uma dupla função: protege do frio, mas também do mato.

Maria Olinda Gonçalves explica-nos o fato castrejo. Este é composto por três saias. A saia branca – que é de linho – o saiote vermelho “para dar um pouco de cor, a saia negra e o avental que aqui chamamos de Mandil”. A blusa é também ela negra e o lenço da mesma cor é preso com um nó no topo, que este era um vestuário do dia-a-dia. Finalmente, nos dias de chuva ou muito frio, as mulheres de Castro Laboreiro vestiam ainda uma capa também ela de burel grosso que permitia que o corpo se mantivesse seco.

2. O Castro Laboreiro

São conhecidos como os boca negra e o nome passou também para os habitantes da aldeia serrana. Os cães Castro Laboreiro levam o nome da terra onde nasceram. Esta que é uma das mais antigas raças da Península Ibérica é também uma marca identitária do povo que habita o alto da Serra da Peneda.

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De pêlo malhado, parecendo quase uma camuflagem, o Castro Laboreiro foi fundamentalmente cão pastor, sendo hoje conhecido como cão de guarda. É um animal de grande porte, mas os olhos cor de mel não enganam ninguém. Pode ser de guarda, mas é dócil para os donos e adora crianças.

Quem o afiança é Sara Esteves, a criadora que – juntamente com o marido e os filhos – conseguiu travar o que parecia ser a extinção do Castro Laboreiro e deu nova vida a esta raça muito particular.

Pela aldeia, é usual cruzarmo-nos com estes cães pelas ruas. De pouco adianta chamá-los, que são poucos os que aceitam festas de estranhos. Esta é uma das suas caraterísticas. “O Castro Laboreiro está sempre alerta e lê muito bem as pessoas”.

Como marcas distintivas da raça estão o céu da boca negro, as orelhas sempre caídas, a cauda sempre em baixo, os quadris direitos e aqueles olhos cor de mel que nos perdem. Mas as histórias que se contam nos serões à lareira de Castro Laboreiro – uma aldeia que é um caso único no mundo – envolvem quase sempre lobos.

Quando era pastor, o Castro Laboreiro usava sempre uma coleira com pregos para tornar mais justa a luta com as matilhas. Mondego ou Fiel eram então alguns dos nomes mais comuns e há sempre alguém que lembra aquele cão que um dia desafiou o lobo. “O Mondego era um cão muito bom, que conseguia vencer uma luta com um ou dois lobos, mas a sua principal preocupação era nunca deixar que a matilha o rodeasse”, lembra Filipe Sousa. É também por isso que o cão é um dos 7 objetos com história entre Castro Laboreiro e Melgaço.

3. A necrópole megalítica

Há 62 antas e mamoas no planalto de Castro Laboreiro

O planalto de Castro Laboreiro é um local diferente, com uma energia muito própria. não é pois de estranhar ter sido este o local escolhido pelo povo que aqui habitou entre o 5º e o 4º milénio a.C. para erigir uma série de monumentos funerários.

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A necrópole megalítica do planalto de Castro Laboreiro é a mais importante da Península Ibérica e ao todo tem mais de 80 monumentos. A maioria deles apenas são visíveis depois de se treinar a vista. São as mamoas, que se percebem na paisagem como pequenas elevações.

As mamoas cobriam as antas onde eram enterrados os mortos deste povo que vivia da caça e da recoleção. As escavações feitas permitiram datar os achados e ainda pôr a descoberto gravuras rupestres, algumas com vestígios de tinta.

É o caso do monumento 5 do Alto da Portela do Pau, onde na pedra aposta à entrada da anta são ainda perceptíveis os ziguezagues gravados na rocha.

4. A batela

Entre Castro Laboreiro e Melgaço, são muitas as histórias de fronteira. Histórias de contrabando e de emigração, que a vida era então bem mais dura e ou se arriscava a vida diariamente pelas fronteiras terrestres, ou cruzando o rio Minho, ou se partia a salto em busca de França.

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No vale, a fronteira é o rio e pelo rio se atravessavam, de noite, bens e pessoas, em operações arriscadas que muitas vezes acabavam mal, fosse pela atenção da Guardia Civil fosse por um golpe de rio.

Catarina Oliveira, socióloga na Câmara Municipal de Melgaço, conta-nos estas histórias de fronteira e fala-nos de gente que tinha por “intenção ganhar a vida e fugir à crise da altura”, mas que nem sempre alcançava o objetivo.

A batela faz ainda hoje parte da paisagem do rio Minho, junto a Melgaço, mas hoje apenas permite o acesso às centenárias pesqueiras.

5. O castelo

Se entre Castro Laboreiro e Melgaço a maior parte dos objetos com história contam a vida de pessoas, há um que ajuda a contar a história do país.

O castelo de Melgaço é tão antigo como a nacionalidade, tendo sido mandado construir por D. Afonso Henriques como forma de afirmação do novo reino e teve importante papel na sua defesa, nomeadamente no reinado de D. Afonso II.

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Do castelo original apenas sobrevive a torre de menagem e parte da antiga cerca da vila medieval e hoje é núcleo museológico onde é possível perceber a história do município.

Na crise de 1383-1385, a praça de Melgaço alinhou ao lado de D. Beatriz contra as pretensões do Mestre de Aviz. Já proclamado rei pelo povo, D. João I fez um cerco à vila que durou 59 dias. Fernão Lopes, o cronista, conta estes dias e fala da luta entre duas mulheres do povo que daria origem à lenda da Inês Negra.

6. A Lanterna Mágica

Mesmo ao pé do castelo, existe em Melgaço um excelente museu que conta a história da pré-história do cinema.

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O Museu do Cinema de Melgaço Jean Loup Passek exibe parte do espólio do crítico de cinema francês que se apaixonou pelas terras e gentes de entre Castro Laboreiro e Melgaço, doando ainda em vida toda a sua coleção ao município.

O pré-cinema é a jóia da coleção. No edifício que hoje alberga o museu, podemos ver uma rara coleção de lanternas mágicas que, no final do século XIX entusiasmaram os europeus com as suas imagens em movimento.

O museu tem em exibição várias Lanternas Mágicas, assim como as placas de vidro pintadas que permitiam criar a ilusão de movimento. Este é, verdadeiramente, um museu que não deve perder.

7. Alvarinho

É impossível escrever sobre Melgaço e não falar do Alvarinho. A casta de uva pequena e muito doce produz um vinho verde muito aromático e, também, mais alcoólico que se tornou uma das imagens de marca dos concelhos de Melgaço e Monção.

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O professor Álvaro Campelo explica ao Portugal de Lés a Lés como o Alvarinho se tornou num vinho que é identitário deste território. Nos primórdios, explica, era produzido em poucas quantidades e guardado para as ocasiões festivas da fidalguia da Riba Minho.

A razão era simples. Este era um vinho de uma uva produzida em muito pequenas quantidades nas latadas que bordejavam os campos agrícolas das encostas deste território entre Castro Laboreiro e Melgaço. Só muito mais tarde ele se tornou aposta de produtores e ganhou fama que ultrapassa as nossas fronteiras. Agora, afirma, vai mudar radicalmente a paisagem.

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Jorge Montez (texto) Miguel Montez (imagem): Jorge Montez nasceu e fez-se jornalista em Lisboa, mas quando o século ainda era outro decidiu mudar-se de armas e bagagens para Viana do Castelo. É repórter. Viveu três meses em Sarajevo quando os Balcãs estavam a aprender os primeiros passos da paz, ouviu o som mais íntimo da terra na erupção da Ilha do Fogo e passou cerca de um ano pelos caminhos do Oriente.
Miguel Montez - Mesmo quando não está com a máquina pensa nas cores e nos enquadramentos. A fotografia é paixão e vai ser profissão. É curioso por natureza. Gosta de conhecer locais e pessoas e delicia-se quando descobre sabores novos. Este é um projeto à sua medida. Já foi voluntário no estrangeiro e tocou em festivais de música.

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