Chef Álvaro Costa surprende em hotel com tradição
O conceituado chef Álvaro Costa é o nome escolhido pelo hotel Meira para colocar o seu restaurante de novo nos mapas. Hotel familiar que se soube reinventar ao longo dos tempos, aposta agora numa cozinha de autor com raízes profundas na tradição e nos produtos autóctones.
Localizado em Vila Praia de Âncora, bem perto das praias que fizeram a fama da localidade alto-minhota, o hotel Meira é um dos mais antigos hotéis do norte do país. Começou como pensão e foi crescendo com o foco no cliente até se tornar num moderno e elegante hotel de 4 estrelas, recentemente renovado.
A funcionar desde 1935 sempre na mesma família, o hotel Meira nasceu do esforço do casal Simão Meira e Felisbela Brito, ganhou fôlego com a gerência de Jorge Meira e agora está entregue a Ana Paula Meira, neta dos fundadores, e ao seu filho Emanuel. São quatro gerações de uma família à frente de um estabelecimento em que se não vêem os anos. De decoração leve, espaços amplos e arejados, piscina exterior e quartos de design cuidado, o hotel Meira de Vila Praia de Âncora faz jus às suas quatro estrelas e prepara-se agora para dar um salto no seu restaurante.
Felisbela foi uma cozinheira de créditos firmados e os pratos que saíam das suas mãos trouxeram justa fama ao restaurante. A lampreia, o cabrito e até as tripas à moda do Porto levavam pessoas a fazer-se à estrada desde a Invicta, numa altura em que não era fácil chegar a Vila Praia de Âncora apenas para se poderem regalar com a comida confecionada pela célebre cozinheira.
Agora, cerca de 30 anos depois, e com o hotel a funcionar em ritmo de cruzeiro, Ana Paula e Emanuel Meira estão dispostos a recuperar a aura e a fama do restaurante. E nada melhor para o fazer do que juntar à equipa um dos mais conceituados chefs nacionais.
O chef Álvaro Costa passa a ser responsável pela ementa do restaurante a partir de janeiro, apostando em sabores tradicionais e nos produtos locais. É assim que na cozinha do Hotel Meira serão preparados os peixes do dia, ou não estivéssemos em terra de pescadores, a truta do rio Âncora, o polvo da pedra e a carne de cachena, a espécie de vaca autóctone que pulula nas serras da Peneda e do Gerês. O bacalhau, tradicional por esta vila que viu muitos dos seus filhos partir para a Terra Nova, também será ponto assente na ementa.
É intenção do Hotel Meira e do chef Álvaro Costa manter a ementa de cinco pratos ao almoço e apostar em verdadeiros menus de degustação aos jantares, bem como em piscar os olhos à Galiza e às empresas da região, que passam a ter aqui um espaço amplo e uma culinária apurada para as suas iniciativas.
O chef Álvaro Costa arregaça as mangas na cozinha do Hotel Meira a partir de janeiro, mas o jantar de fim-de-ano será como que uma espécie de apresentação do que aí virá e, garantimo-lo, é de molde a deixar água na boca em todos os que gostam de boa comida.
O menu do jantar de fim-de-ano preparado pelo chef Álvaro Costa para o Hotel Meira é composto por oito momentos harmonizados com bons vinhos, a maioria também da região.
O primeiro momento é composto por vieira, iogurte de beterraba, moscatel e menta fresca a potenciar os sabores, acompanhado por um espumante Cortinha Velha.
Segue-se um creme de mariscos fumados, com sapateira ao natural e gelatina de coentros. O creme de extremo sabor resulta das cascas de mariscos que fumaram durante três horas no forno, que casa no ponto com a carne de sapateira.
O terceiro momento é verdadeiramente especial. Corvina em cabidela do mar. O prato, nascido da imaginação do chef Álvaro Costa junta uma posta de corvina de extrema frescura com um um arroz que no aspeto e no sabor nos fazem lembrar a bem minhota cabidela, mas em que não há lugar a hesitações. Quando o criou, afirmou-nos o chef, “só me vinha à ideia o pica-no-chão”. Mas todos os sabores são do mar.
Os peixes foram harmonizados com um alvarinho Cortinha Velha que os acompanhou com distinção.
A ilusão da cor é criada por um arroz cozinhado com tinta do choco, camarão e caldo de peixe e a do sabor avinagrado pela adição de um vinagre de Alvarinho que eleva este prato que tem todas as condições para se tornar um prato-bandeira da renovada cozinha do Hotel Meira.
Antes das carnes, há tempo para um corta sabores composto por smoothie de citrinos com crème fraiche.
Só depois é servida a carne. Para o quinto momento deste menu de fim-de-ano o chef Álvaro Costa escolheu a carne de cachena, o tipo de vaca ligeiramente baixa e de profusos cornos que pasta pelos montes do Alto Minho. Foi servido um dorso de cachena cozinhado no ponto, bem selado e rosado por dentro, acompanhado por batata migada e trufa branca, cenoura assada, shitakes e molho madeira que tinham a responsabilidade de fazer sobressair os sabores da carne e dar-lhes uma cama de conforto, tarefa que conseguiram com distinção
Ainda acompanhado por um tinto do Douro da Quinta de Castelares foi servido um duo de queijo serrano com uma surpreendente compota de pimento e maçã.
Para terminar um jantar de mão-cheia, veio um cheesecake de manga com gelado de tangerina, coulis de morango e crocantes de chocolante pralinê, a que se seguiu um indispensável café com mignardises e trufas.
Última palavra para o serviço, simpático e competente, a fazer jus a uma refeição de autor com raízes profundas na terra e na tradição.
O jantar de fim-de-ano poderá ser marcado no Hotel Meira. Depois do repasto haverá música ao vivo com um duo e lá pelas duas da manhã será servida uma ceia.