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Um copo do Vinho dos Mortos para alegrar o dia

Vinho dos Mortos em Boticas

Em Boticas deixe-se seduzir pela montanha, pelos seus riachos e bosques. Mas também pela sua história. É aqui, na Serra do Barroso, que se encontra o Castro do Lesenho, considerado o mais importante povoamento lusitano conhecido.

É também na serra que apascenta o gado barrosã cuja carne dá justa fama a estas terras. Se o conseguir – porque já poucos produtores o fazem – acompanhe a refeição com o Vinho dos Mortos.

Entre os investigadores ganha cada vez mais consistência a hipótese de o Vinho dos Mortos ter nascido com as segundas invasões francesas. Em 1807, e sabendo do que a casa gastava, o povo de Boticas pôs o que podia  a salvo da pilhagem dos soldados do general. O vinho foi enterrado no chão das adegas, debaixo das pipas e dos lagares, outros haveres foram escondidos e os que puderam puseram-se a salvo.

Não deitaram o vinho fora, mas preferiram correr o risco de o estragar a deixar que alegrasse o exército invasor. Depois de os franceses terem sido expulsos, os habitantes regressaram e trataram de recuperar os bens que restaram. Ao desenterrarem o vinho, constataram não apenas que não estava estragado como pelo contrário estava muito mais saboroso. O Vinho dos Mortos ainda não se chamava assim mas já tinha as suas propriedades únicas com uma graduação de 10º/11º, palhete, apaladado e com algum gás natural, que resulta de ter fermentado no escuro e a uma temperatura constante.

Nasceu assim a tradição de enterrar o vinho. Por ser enterrado passou a chamar-se Vinho dos Mortos.

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Jorge Montez: Nasceu e fez-se jornalista em Lisboa, mas quando o século ainda era outro decidiu mudar-se de armas e bagagens para Viana do Castelo. É repórter. Viveu três meses em Sarajevo quando os Balcãs estavam a aprender os primeiros passos da paz, ouviu o som mais íntimo da terra na erupção da Ilha do Fogo e passou cerca de um ano pelos caminhos do Oriente.
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