Está vivo o linho em Limões, Ribeira de Pena

Na aldeia de Limões, em Ribeira de Pena, a fama das suas tecedeiras vem de longe e, por isso mesmo, a arte de tecer o linho está bem viva.




“A minha bisavó tinha várias tecedeiras que trabalhavam para ela. Ia com o marido vender a Guimarães, ela a pé e ele montado a cavalo do burro. No regresso, vinham os dois a pé porque o burro vinha carregado”. Sentado à sombra e apoiado no cajado, Armindo Tavares recorda o que ouviu contar aos seus pais.

O linho tem tradição em Limões
Armindo Tavares conta histórias antigas

“Tinha a Ti Maria da Cipriana, a Ti Maria de Tojais e a Ti Maria da Portela. Tinha bastantes mulheres que teciam em casa. Ela pagava-lhes o que era justo e depois vendia”. À conversa com o Portugal de Lés a Lés e com Guilhermina Tavares, sua prima, Armindo afirma que ainda hoje “60 por cento das casas da aldeia têm um tear”.

Tecer o linho é uma arte que trouxe fama a Limões e já no século XVIII era aí que as casas ricas das Terras de Basto se iam abastecer. Armindo Tavares ajeita o boné para dar mais ênfase ao que diz: “diz-se que o nome original da terra era Limão, por causa das lindas mãos das suas tecedeiras, e daí é que passou a Limões”. Será… A verdade é que por aqui não se vêem limoeiros com fartura suficiente para dar o nome à aldeia.

O museu do linho

Juntamente com Cerva, a vila que fica a poucos quilómetros no vale do Rio Póio, Limões continua a ser um importante centro do linho, tendo 6 tecedeiras em atividade. Das suas mãos e dos teares que muitas vezes herdaram, saem trabalhos em rifado, mantês, pano liso ou riscas, entre outras técnicas. Na aldeia, continua Armindo Tavares, há ainda três mulheres que fazem todo o ciclo do linho, da sementeira ao tear.

Este ciclo está representado no Centro de Interpretação – Museu do Linho situado logo à entrada da aldeia, numa antiga casa de agricultor abastado. Este é um museu que não nasceu da necessidade de se preservar uma memória, mas antes na preocupação de se encontrar um espaço para Grupo de Tecelagem de Limões, que funciona no primeiro andar.

Só muito depois é que a loja do rés-do-chão, onde originalmente ficavam os animais, foi convertido e é lá que funciona a exposição permanente sobre o ciclo do linho integrada no Ecomuseu de Ribeira de Pena que integra, entre outros, a Casa-Museu Camilo Castelo Branco.

É que são as próprias tecedeiras quem mantém o museu a funcionar, pelo que uma visita incluirá também muita conversa e demonstrações. É assim que ficamos a saber que o linho deve ser plantado em abril, tendo-se o cuidado de se fazer várias mondas para impedir o crescimento de ervas daninhas. Depois de em junho ser finalmente colhido, tem depois todo o processo de preparação até chegar ao tear. É ripado, separado em mancheias, posto de molho, seco, esmagado,  esfregado e passado pelo sedeiro, até finalmente se transformar em fio de linho com a ajuda da roca e do fuso.

É este um processo moroso que continua hoje a ser feito em Limões. Na bela aldeia do concelho de Ribeira de Pena, os gestos ancestrais são repetidos e por mulheres de várias gerações, o que permite a continuação da atividade.

Maria de Jesus é quem nos abre a porta do Centro de Interpretação – Museu do Linho. Juntamente com o marido, António Tavares, explica e exemplifica as várias fazes do ciclo do linho. Depois, sobe ao primeiro andar e senta-se num dos vários teares que ali se encontram. A sala está decorada com exemplos de trabalhos do Grupo de Tecelagem de Limões. Há colchas, panos, toalhas e tapetes, todos feitos na aldeia e exemplificativos das várias técnicas que podem ser usadas.

São, fundamentalmente, duas as técnicas utilizadas pelas tecedeiras. O ripado ou felpo é feito com recurso aos riscos-mapa. Estes, são desenhos utilizados para criar relevos no produto final, com as tecedeiras a puxarem o fio, ponto por ponto, para criar relevos na peça. E depois há o mantês, que obriga a que se utilize teares com três liços e outras tantas premedeiras, que permitem a elaboração dos padrões.

O Centro Interpretativo – Museu do Linho funciona na aldeia de Limões às quartas e sábados entre as 14 e as 17.30, podendo ser visitado com marcação  prévia noutros dias. O Museu ganhou em 2017 uma menção honrosa da Associação Portuguesa de Museologia pela parceria com a VERde NOVO na promoção do linho de Cerva e Limões.

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