Bucelas: onde o Arinto é rei
A região demarcada de Bucelas foi criada em 1911, com a exigência de instalação das vinhas em solos predominantemente derivados de margas e calcários duros, correspondentes às tradicionais ‘caeiras’, devendo a elaboração do vinho branco recorrer à casta Arinto, com um mínimo de 75%, podendo ser completada apenas por recurso às castas Esgana-Cão (Sercial) e Rabo de Ovelha. A grande maioria dos produtores opta hoje por fazer vinhos só de Arinto.
Devido à sua elevada acidez, era habitual os vinhos estagiarem em garrafa normalmente durante cerca de 18 meses antes de serem lançados no mercado. Mas a pressão dos tempos atuais leva alguns produtores a lançarem as suas colheitas ainda muito ‘jovens’. Todavia, o consumidor pode bebê-los assim – cítricos e minerais – sozinhos ou a acompanhar pratos de marisco, saladas e peixes grelhados, mas também guardar algumas garrafas para os degustar três, quatro ou mais anos depois, ganhando em aromas mais tropicais, estrutura e complexidade, podendo assim harmonizar com pratos mais elaborados.
A elevada acidez do Arinto (também chamada de Pedernã na região de Entre-Douro e Minho) levou à sua expansão por todas as regiões vitivinícolas nacionais como casta melhoradora, para dar frescura, sendo hoje a variedade de uva branca mais plantada no País.
O Lisbon Hock
A produção de vinho em Bucelas remonta à época romana e há diversas referências importantes a este vinho e não apenas em Portugal. Uma das menções mais antigas data do século XVI, em 1594, por um dos maiores poetas e dramaturgos do Mundo, William Shakespeare, que na peça Henrique VI, menciona o ‘Charneco’, um Vinho Bucelas que era feito numa das zonas da freguesia que se chama Charneca, junto a Vila de Rei.
O Duque de Wellington, que ajudou Portugal a repelir os franceses de Napoleão, bebia e gostava dos vinhos de Bucelas e de outros dali perto (o Carcavelos, o Colares, etc.) e ofereceu-os também ao seu Rei, Jorge III, e ao filho deste, o Príncipe de Gales, mais tarde Jorge IV. Pela palavra deste monarca, os vinhos passam a ser conhecidos no Reino Unido pelo nome de Lisbon Hock (vinho branco de Lisboa) ou Wines of Lisbon.
A ligação dos vinhos de Bucelas a Inglaterra também já tinha passado por Luís de Vasconcelos e Sousa, terceiro Conde de Castelo Melhor, que foi intermediário nas negociações do contrato de casamento entre a Princesa Catarina de Bragança e o Rei de Inglaterra Carlos II. Em cuja honra, instituiu mais tarde o Morgadio de Santa Catherina, tendo nele incluído a Quinta da Romeira, hoje gerida pela empresa Wine Ventures.
O elogio do Arinto
Esta é uma região que já esteve quase em risco de desaparecer, mas hoje faz parte da Rota dos Vinhos de Bucelas, Carcavelos e Colares – três vinhos históricos de Lisboa –, tem nove produtores/engarrafadores e parece estar, de novo, a crescer em produção e notoriedade. A marca mais icónica é o Bucellas (criada em 1939), da empresa Caves Velhas (um dos mais antigos produtores da região), que faz parte atualmente do grupo Enoport United Wines, que possui também a Quinta do Boição, com 37 hectares de vinha, onde são produzidos os vinhos e espumantes brancos DOC Bucelas.
No carismático edifício das Caves Velhas, situado no centro da vila frente ao Museu do Vinho e da Vinha (que merece uma visita), vai encontrar uma Enoteca, com loja de vinhos e espaço para provas e eventos, bem como uma típica adega que pode ser visitada com marcação, per si ou integrada em programas de degustação e/ou cursos de vinho. A Quinta do Boição ainda não tem espaço específico para enoturismo, mas também pode ser visitada por marcação.
O Prova Régia, da Quinta da Romeira, é outra das marcas mais conhecidas e com maior produção, sendo o vinho branco da região de Lisboa que mais vende em Portugal. Embora atualmente só o Reserva seja DOC.
A Wine Ventures, de Francisco de Sousa Ferreira, comprou a Quinta da Romeira (com 75ha de vinha) à Companhia das Quintas em 2013 e desde aí tem apostado fortemente na casta Arinto, que o enólogo da quinta, Manuel Pires da Silva, diz que “se revelou, para mim, a casta rainha dos brancos em Portugal, principalmente neste terroir”, com solos calcários e um microclima muito especial.
A Quinta da Romeira ainda não tem área de enoturismo a funcionar mas está a ser preparada, incluindo loja, sala de provas e visitas. Por agora podem-se comprar os vinhos e visitar uma parte da quinta, sob marcação prévia.
Já a Quinta da Murta, com 27ha, tem loja, sala de provas e de eventos, bem como uma casa rústica com piscina, tendo assim a possibilidade de acolher casamentos, festas, seminários, workshops, etc. até 300 pessoas. As visitas e provas realizam-se todos os dias da semana mas com marcação prévia.
Bucelas também é Espumante
António João Paneiro Pinto, bisneto de António Joaquim Pinto Júnior e João Camilo Alves, ambos produtores de vinhos de Bucelas no século XIX, iniciou a sua própria produção, em 1993, após ter recebido de herança a pequena quinta do Chão do Prado. São oito hectares onde, atualmente, se produz vinho branco e espumante seco com Denominação de Origem Controlada e comercializado com a marca Chão do Prado, a partir das castas Arinto, Esgana-cão e Rabo de Ovelha.
A produção do espumante bruto natural do Chão do Prado constituiu uma novidade no mercado e foi o primeiro passo para que Bucelas viesse a ser demarcada igualmente como região de Vinho Espumante, em 1999, sendo este mais um fator que contribui para a sua valorização. Hoje, também as Caves Velhas, a Quinta da Romeira e a Quinta da Murta têm Espumantes DOC Bucelas que, tal como os vinhos, devido ao Arinto, têm bom potencial de guarda.
O Chão do Prado é visitável e os seus vinhos podem ser provados na quinta, sob marcação prévia, ou também a acompanhar várias iguarias típicas da região saloia, no restaurante Chão do Prado, com uma bela vista sobre as vinhas.
Tradição renovada
A Quinta do Avelar é um dos mais antigos produtores de vinhos de Bucelas, pois pertenceu a João Camilo Alves, tendo sido comprada em 1980 pela família Geraldes Barba que gere até hoje a propriedade de 235 hectares (15 de vinha) e que tem o icónico solar, imagem associada aos vinhos Bucelas durante muito tempo. A quinta produz vinho com marca própria, recorrendo às três castas autorizadas na DOC e vende também uvas e vinho a outros engarrafadores da região como ao enólogo Carlos Canário, que detém a marca Casal D’Além, e a Vasco Pereira do Monte do Roseiral.
Outro engarrafador de vinho de Bucelas – o Morgado de Bucelas –, que compra uvas e vinifica na região, é Nuno Cancela de Abreu, através do seu projeto Boas Quintas. Entre 1987 e 2001 foi gerente e enólogo na Quinta da Romeira, onde trabalhou de perto com a casta Arinto, tendo sido um dos principais responsáveis pela sua recuperação através da seleção clonal e vinificação diferenciada, dando origem entre outras às marcas Prova Régia e Morgado de Sta. Catherina.
Por último, e por paradoxal que possa ser, uma das mais recentes produtoras da região, a Quinta Nova de Bucelas, era também uma das mais antigas: “o vinho Viúva Quintas surge como homenagem da bisneta Carla Cordeiro e trineta Catarina Silva à Viúva Quintas que era vitivinicultora em 1920 em Bucelas”, explica a produtora. A quinta remonta ao século XVII e está na mesma família há gerações. Mais recentemente Carla Cordeiro decidiu recuperar a atividade vitivinícola com dois hectares de Arinto, com a ajuda do enólogo Nuno do Ó, e está a desenvolver o projeto de enoturismo.
Embora não fazendo vinho DOC Bucelas, mas também produzindo um branco 100% Arinto, a Quinta das Carrafouchas, na freguesia de Santo Antão do Tojal, contígua a Bucelas, no sentido de Loures e Lisboa, merece também uma visita.
A quinta possui um belo solar construído no princípio do séc. XVIII e reza a história que o general Junot ali ficou durante as primeiras invasões francesas. Em 1879, a propriedade foi comprada ao Marquês de Valada por Joaquim Franco Cannas, mantendo-se na sua família até ao presente, pertencendo atualmente a D. Maria Veneranda Cannas Henriques da Silva.
As Carrafouchas têm vários programas de enoturismo, incluindo visitas às vinhas, provas, refeições, workshops, entre outros. Para os usufruir basta ligar ao produtor António Maria (filho da proprietária) e marcar a sua visita.
Bom Dia.
Temos que fazer um trabalho sobre uma industria e achamos por bem fazer algo sobre o nosso conselho.
Temos que explorar tudo o que envolve, desde a primeira materia até aos resíduos finais.
Gostavamos muito de contar com a vossa ajuda, pois somos um grupo de quatro (4) adultos a tentar acabar o 12º ano.
sem mais assunto
Maria Esteves, Glória Fernendes, Alexandra Monteiro e Nuno Rodrigues
Olá, desculpem a resposta tardia.
Não sabemos como vos podemos ajudar. Somos jornalistas e fizemos este trabalho sobre os produtores de Bucelas. Propomos que entrem em contacto diretamente com eles.
Abraço e obrigado