As aldeias de xisto de Proença-a-Nova

Têm nome de árvores mas é a pedra que as torna únicas. Oliveira e Figueira são as duas aldeias do concelho de Poença-a-Nova onde o xisto impera. Já geograficamente longe das serranias da Lousã, as duas aldeias de xisto têm um encanto especial a que apetece sempre voltar.




Figueira faz parte da rede de Aldeias de Xisto e Oliveira é associada, por ser um núcleo demasiado pequeno. No entanto, é neste povoado que mais se sente a importância da marca. Ao contrário da maioria dos lugares e aldeias do concelho, Oliveira viu a sua população crescer nos últimos anos.

Custódio Tomé será o grande responsável por esse salto populacional. Pegou numa casa e recuperou-a, tomou-lhe o gosto e continuou a fazê-lo com outras, tendo criado alojamentos locais para os turistas que procuram a tipicidade, o sossego da serra e o encanto da praia fluvial de Fróia.

A recuperação de casas trouxe gente à aldeia
O núcleo de xisto de Oliveira

Atrás dele vieram outros e todos juntos voltaram a dar vida à terra que estava a definhar. Hoje, quem procurar Oliveira poderá ver dois artesãos a trabalhar. António Martins Cardoso faz cestaria e Vasco Dominguez trabalha a pedra e constrói miniaturas de casas. Os dois cunhados têm percursos profissionais que os levaram a Lisboa e à Carris e ambos regressaram após a reforma. António nunca largou o ofício de que vivia antes de ir para a tropa e para a guerra. Já Vasco ia-se entretendo com as suas miniaturas, mas de uma forma lúdica. Agora, têm as portas das oficinas abertas para quem os quiser visitar, dar duas de conversa e, quiçá, provar a jerupiga que está sempre pronta para encher os cálices.

Artesão de Oliveira
António Martins Cardoso faz cestaria e Vasco Dominguez miniaturas de xisto

Aqui temos as pessoas, as casas e até o forno comunitário que já só vai servindo de quando em vez. O mesmo não acontece em Figueira. Na bela aldeia também perto de Sobreira Formosa ainda todas as semanas há quem coza o pão no forno que é de todos, como dantes acontecia em todo o lado. D. Lúcia acende o forno sempre que o restaurante da família abre portas e aproveita e faz pão também para os vizinhos.

Uma aldeia de xisto que se fecha à noite

Figueira tem a particularidade de ser uma aldeia fechada. Quando a noite caia, as pequenas portas de madeira fechavam-se para evitar que os lobos entrassem no povoado. Os lobos já não andam por estas terras, mas as cancelas foram recuperadas. São marcas de outro tempo, que a história é longa no território de Proença-a-Nova. Figueira, já se disse, faz parte da rede de Aldeias de Xisto e, por isso, há aqui e ali placas de informação que ajudam o visitante a contextualizar o que vê.

É por isso que fica a saber que as pequenas portas nos vãos das escadas de pedra que davam acesso à habitação serviam para as galinhas. As aves andavam à solta pelo povoado durante o dia e eram recolhidas de noite. Para as proteger dos animais e das temperaturas.

A loja da rede das Aldeias do Xisto fica num café que às sextas, sábados e domingos abre portas para a típica gastronomia local, o Ti Augusta. É assim possível provar o Plangaio ou o Afogado da Boda, pratos de nomes diferentes que denotam a sua especificidade.

Em Figueira, há poucas casas recuperadas. Sentada nuns degraus a apanhar o sol de inverno, D. Justina dá voz a um sentimento comum. Quando lhe dizemos que a sua aldeia é muito bonita, responde-nos com um sorriso: “É tudo muito velho e só pedra…” Além do mais, no verão de 2016 a aldeia chegou a ser lambida por um fogo que lhe dizimou a paisagem e ainda chegou a queimar algumas das habitações devolutas, mas que não foi suficiente forte para destruir o encanto desta aldeia de paredes escuras e caminhos esconços que têm nomes como Quelha do Ti Tiago ou Travessa Ti Augusta.

“Aqui os nomes das ruas têm a ver ou com questões geográficas ou com pessoas que marcaram de alguma forma a vida da aldeia”, conta-nos Joana Pereira, uma nortenha que foi “adotada” pela aldeia. É assim que a zona onde morava o Ti Tiago – “um ancião muito respeitado” passou a ter o seu nome na toponímia. O mesmo aconteceu com Ti Augusta, casada com um lavrador abastado da aldeia que “ajudava aos partos, mediava conflitos de extremas de terrenos e andava sempre com comida no regaço para oferecer às crianças”.

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