Gondomar: da filigrana ao rio
De Melres a Valbom acompanhamos o Douro pela margem direita, observando a filigrana que os raios de sol desenham nas águas do rio. Estamos em Gondomar, terra onde se fazem os corações que as mulheres de Viana do Castelo exibem ao peito.
É aqui que ourives entrelaçam os fios de ouro em intricados motivos, numa arte paciente e minuciosa que pode ser vista no Centro da Indústria da Ourivesaria e Relojoaria (CINDOR), no centro da cidade.
A marginal acompanha o Douro ao longo de mais de 30 quilómetros. Junto ao cais de Ribeira do Abade, em Valbom, os barcos valboeiros da pesca à lampreia lá estão a lembrar que este já foi dos principais centros piscatórios do norte. Se estivermos entre janeiro e abril podemos apreciar a faina e até provar a lampreia, seja à bordalesa ou em arroz.
Já para lá da barragem de Crestuma-Lever, temos Lixa, a Serra das Flores e todas as condições para a prática de desportos náuticos.
Pelo caminho ficou a foz do Sousa. Se olhar para a ponte de betão que a atravessa, verificará semelhanças com a ponte da Arrábida, mais a juzante. Não é uma coincidência, ambas foram projetadas por Edgar Cardoso e esta do Sousa serviu como ensaio da maior, que liga Gaia ao Porto.
Na Gondomar marginal do Douro aproveitemos ainda a oportunidade de dar um pulo a Gramido. Na Casa Branca do lugar, recentemente recuperada, foi assinada em 1847 a “Convenção do Gramido” que pôs um termo à Revolução da Maria da Fonte. E anote aqui esta coincidência: a revolução da Maria da Fonte contra a proibição dos enterros em igrejas e em oposição às novas leis de recrutamento militar começou na Póvoa do Lanhoso e veio acabar aqui em Gondomar, as duas terras da arte da filigrana.
Ainda no Gramido, há que visitar a Fundação Júlio Resende e apreciar as obras do pintor que ilustrou como ninguém as gentes da ribeira portuense.
E, para terminar, subamos os 194 metros do Monte Castro com a sua capela dedicada a Santo Isidoro e apreciemos a paisagem, que nos leva por terras de Gondomar, Porto e Gaia.