Portugal de Lés a Lés

 

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Silêncio

A tragédia abateu-se sobre o país e nestes dias “somos todos um só” a chorar as dezenas de vidas que se perderam no incêndio de Pedrógão Grande. Portugal está de luto e este é o tempo do silêncio.

Não fazia sentido, neste momento, o Portugal de Lés a Lés manter o seu trabalho de contar o melhor de Portugal, porque o melhor são as pessoas. As chamas continuam a dizimar os concelhos de Pedrógão Grande, Figueiró dos Vinhos e Castanheira de Pera e este é o tempo do silêncio e da solidariedade.

O governo decretou três dias de luto nacional em memória das mais de 60 pessoas vitimadas pelas chamas. O país está em choque, só depois virá o perceber como foi possível perderem-se tantas vidas.

O nosso pensamento está com os familiares das vítimas e com os bombeiros que enfrentam as chamas num combate desigual.

Os soldados da paz são incansáveis, ano após ano, fogo atrás de fogo, em condições sempre difíceis. Voluntários na sua imensa maioria, os bombeiros representam o melhor de nós: a coragem, a abnegação, a resiliência.

A natureza, já o sabemos, regenera-se. Mas as vidas perdidas são insubstituíveis.

Este é o tempo da solidariedade e do silêncio.

Depois virá o momento da reconstrução, do debate e das decisões.

Pedrógão Grande, Figueiró dos Vinhos e Castanheira de Pera estão localizadas na zona do Pinhal Interior, no centro de Portugal. Esta é uma zona que percorremos muitas vezes nas nossas viagens de lés a lés. E de todas as vezes comentamos como o pinhal se tem vindo a transformar paulatinamente num eucaliptal. Não sabemos – é cedo – se este foi um fator decisivo nesta tragédia, mas quando a cinza assentar urge pensar seriamente no que estamos a fazer com o nosso território.

Há que mudar o paradigma da floresta. Há que proteger a sua diversidade e autenticidade e acautelar o socorro. Há que tomar decisões.

Mas este não é ainda o momento. Como afirmou o Presidente da República, hoje “somos todos um só” e estamos de luto.

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Jorge Montez: Nasceu e fez-se jornalista em Lisboa, mas quando o século ainda era outro decidiu mudar-se de armas e bagagens para Viana do Castelo. É repórter. Viveu três meses em Sarajevo quando os Balcãs estavam a aprender os primeiros passos da paz, ouviu o som mais íntimo da terra na erupção da Ilha do Fogo e passou cerca de um ano pelos caminhos do Oriente.
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