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As belas aldeias de Ribeira de Pena

Espigueiro de Agunchos

No fértil vale do rio Póio, o verde impera. Mas são as aldeias que surpreendem. Agunchos, Limões ou Cabriz têm um caráter muito próprio e um importante património. Estas belas aldeias são ponto de paragem obrigatório num passeio pelo concelho de Ribeira de Pena.




Este é um vale de terra rica e muita água, onde a agricultura ainda hoje é a atividade dominante, porque terras tão férteis não se podem deixar vazias. Há linho, cereais e pasto para as vacas de raça maronesa. E, por isso, estas sempre foram aldeias ricas. O seu património é a prova disso.

Partamos para este percurso na vila de Cerva, que tem no pelourinho a lembrança de ter sido um antigo município. Este é um passeio que se vai desenrolar em estrela, voltando uma e outra vez ao centro, aproveitando para comer nos bons restaurantes que aqui encontramos e, se for tempo disso, refrescar o corpo na praia fluvial.

Agunchos

A primeira paragem será Agunchos. Fazendo parte da rede das Aldeias de Portugal, é também aquela cujo centro histórico está mais abandonado. Mas as casas ricas que enquadram a rua principal merecem um passeio cuidado até sermos surpreendido pelo maior espigueiro que já vimos. É tão grande que a rua passa por baixo, emprestando assim um aprumo cénico que o torna ainda mais impressionante.

Histórias ao ritmo da natureza

Mas não foquemos aqui toda a atenção. Continuemos a olhar para as casas e, mesmo antes do espigueiro, olhemos para o último andar da casa para vermos uma inusitada varanda totalmente fechada com antigo gradeamento metálico. Este é um dos 6 objetos com história no concelho e, por sinal, uma que fala da pouca confiança que um pai tinha na sua filha.

O gradeamento não foi colocado para impedir eventuais quedas, mas antes para impedir que estranhos tivessem acesso à varanda. É que, reza a tradição, haveria na aldeia um rapaz que mostrava demasiada afeição pela filha do proprietário, e como esse entusiasmo seria partilhado pela donzela, o gradeamento foi a solução encontrada para proteger a virtude da moça.

Limões

De todas as belas aldeias do concelho de Ribeira de Pena e, mais concretamente, do vale do rio Póio, Limões é talvez a que mais se destaca pela riqueza do seu património que levou a que fosse classificada como conjunto arquitetónico de interesse público. Ao passearmos por esta terra conhecida pelo seu linho, não podemos deixar de observar as casas de lavrador e nelas olharmos com atenção para os pormenores.

Um dos 22 relógios de sol que existem no concelho de Ribeira de Pena

Desde logo para a precisão com que a pedra foi talhada, e também para as janelas. Mas deixemos o olhar avançar até aos telhados e aí descobriremos em várias delas relógios de sol. Esta é uma caraterística comum a várias das aldeias de Ribeira de Pena, estando identificados um total de 22 relógios de sol no concelho.

Vai-se subindo a aldeia em direção à Igreja de S. João Batista e aqui, além da imagem observe-se ainda a interessante fonte. Aqui aprecie-se a paisagem. Este é um concelho de transição entre o Minho e Trás-os-montes e disso nos apercebemos neste ponto, com a serrania já com traços indiscutivelmente transmontanos.

Fonte de granito
Museu do Linho
Igreja de Limões
Limões é Núcleo Arquitetónico de Interesse Público
Aldeia serrana
Agunchos é Aldeia de Portugal

Mas não saíamos de Limões sem entrarmos no Museu do Linho. Ao fim e ao cabo, esta é uma aldeia onde a tradição não se perdeu e que conta ainda hoje com várias tecedeiras. No museu – que recebeu em 2017 uma menção honrosa na categoria Parceria da Associação Portuguesa de Museologia – podemos observar todo o ciclo do linho e observar ao vivo como se trabalha no tear e se fazem nascer peças mais simples ou mais intricadas.

Cabriz

Cabriz é também ela uma das belas aldeias de Ribeira de Pena. Apesar de pequena, conta com casas imponentes. Mas aqui não há brasões a dizer-nos que estamos perante casas da nobreza. Estas são casas de lavradores e mesmo de brasileiros e os dois tipos dão testemunhos das riquezas que os seus habitantes conseguiram.

O verde, a serra e o espigueiro

Uns fizeram-no ali mesmo, trabalhando as férteis terras do vale do Póio. Outros, tiveram de rumar a outras paragens. Emigraram para o Brasil no século XVIII e aí conseguiram fortuna. Regressados ao ponto de partida, erigiram imponentes casas que, por isso mesmo, são conhecidas em todo o lado como casa de brasileiro.

Só que aqui em Cabriz como em todas as belas aldeias do concelho, os seus proprietários não optaram por uma arquitetura há época moderna que normalmente identifica as casas dos torna-viagem, mas antes preferiram copiar a imponência das casas dos lavradores e mesmo as de alguns solares.

As belas aldeias de montanha…

As aldeias de montanha são completamente diferentes

Subindo a serra a partir de Limões, a paisagem vai-se modificando dramaticamente. O verde dos campos férteis do vale é substituído pela vegetação rasteira das encostas batidas ao vento. A urze e a carqueja imperam numa paisagem deslumbrante. Aqui em cima, a agricultura que se faz é outra, de subsistência, e a pastorícia é uma das principais atividades.

Por isso, é preciso cuidado na estrada ao subir-se a serra, porque nos podemos facilmente deparar com um rebanho de cabras ou mesmo com vacas a seguir pachorrentas o seu caminho ou mesmo a aproveitar o alcatrão para descansar.

Lá em cima, estão as aldeias de Macieira e de Alvadia, onde a pedra negra contrasta com o granito mais claro do vale. Aqui também não se encontram casas ricas, mas a tradicional arquitetura popular. No meio de dias de calor intenso, tivemos azar quando nos deslocámos ao alto da serra e fomos surpreendidos por uma carga de água das antigas.

… e as do vale do Tâmega

Focámos a atenção no vale do rio Póio, mas também no vale do Tâmega há que visitar as aldeias nas duas margens. Mas aqui, os pontos de interesse são outros. Há belas casas, mas também já vários e imponentes solares barrocos. Uma vez mais, os séculos XVII e XVIII é importante neste território de belas aldeias. Temos as capelas da Granja Velha e da Senhora da Guia, local da mais importante romaria do concelho.

Em Friúme

E temos Camilo Castelo Branco, ou as memórias da sua passagem, ainda jovem, por estas terras. Camilo chegou a Ribeira de Pena com 16 anos, aqui casou e daqui teve de fugir precipitadamente. O casamento e fuga de Camilo é uma história deliciosa que podia ter saído da própria pena do escritor.

Em Friúme, a casa onde o jovem casal habitou faz hoje parte do Ecomuseu de Ribeira de Pena. Mas os vestígios deixados por Camilo na sua obra sobre os tempos que passou em Ribeira de Pena são muitos e podem ser acompanhados através do Roteiro Camiliano organizado pela Câmara Municipal.

Uma das formas de o fazer é através do trilho pedestre Caminho do Abade. Percorrer a pé o território é, aliás, a melhor forma de o conhecer. De se deparar com belas paisagens naturais ou apreciar o seu património edificado. Além do Caminho do Abade, estão marcados no terreno o percurso da Levada de Santo Aleixo e ainda o do Vale do Póio.

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Jorge Montez (texto) Miguel Montez (imagem): Jorge Montez nasceu e fez-se jornalista em Lisboa, mas quando o século ainda era outro decidiu mudar-se de armas e bagagens para Viana do Castelo. É repórter. Viveu três meses em Sarajevo quando os Balcãs estavam a aprender os primeiros passos da paz, ouviu o som mais íntimo da terra na erupção da Ilha do Fogo e passou cerca de um ano pelos caminhos do Oriente.
Miguel Montez - Mesmo quando não está com a máquina pensa nas cores e nos enquadramentos. A fotografia é paixão e vai ser profissão. É curioso por natureza. Gosta de conhecer locais e pessoas e delicia-se quando descobre sabores novos. Este é um projeto à sua medida. Já foi voluntário no estrangeiro e tocou em festivais de música.
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