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As samarras e capotes alentejanos de Santa Eulália (Elvas)

samarras e capotes alentejanos de Santa Eulália, Elvas

Aos 80 anos, José Alpedrinha continua a marcar e a cortar a lã e o burel. Mestre alfaiate, é na sua fábrica que são criadas as célebres samarras e capotes alentejanos de Santa Eulália.




“Tenho toda a minha produção vendida, não me posso queixar”. De setembro a janeiro, o estabelecimento agora calmo enche-se de atividade. Escolhem-se as peles, cortam-se os tecidos, cozem-se as peças. As samarras e os capotes alentejanos já não têm a saída de outros tempos e José Alpedrinha adaptou-se.

Chegou a confecionar milhares destes resguardos tradicionais por ano. Agora são apenas algumas centenas, mas continuam a ter saída. “Nós não usamos peles artificiais. Todos os nossos produtos são com pele natural de raposa ou de borrego e os clientes saem daqui sempre satisfeitos”.

É evidente o orgulho com que José Alpedrinha fala do seu trabalho de uma vida. A fábrica começou pelas mãos do seu pai e o alfaiate pegou no negócio ainda novo. Vê o futuro com alguma apreensão, se bem que um novo projeto lhe dê algum alento. “Tenho dois filhos, mas nenhum se interessou por isto. Ainda tentei, mas não deu. Se tivéssemos falado há um ano, dir-lhe-ia que isto não ia continuar, mas agora há um novo projeto.

Agasalho de pastor veste presidentes

Agasalhos tradicionais dos pastores, as samarras e capotes alentejanos viraram também moda. Já se sabe que não há um ministro da Agricultura que dispense o símbolo e até presidentes são clientes dos seus capotes. “Acho que todos os presidentes da República têm um capote meu. O único que não tem é Jorge Sampaio, e até o Duque de Bragança e os irmãos usam capotes feitos por mim”.

Quando José Saramago foi a Estocolmo receber o Prémio Nobel da Literatura utilizava um dos capotes cortados pelas mãos experientes de José Alpedrinha.

O burel, a lã e as peles continuam a ser as matérias primas

Nos últimos 20 anos, os capotes que anteriormente eram para uso dos pastores nos dias invernosos tornaram-se um símbolo de estatuto. “Virou uma peça que a classe média/alta usa por ser diferente. Antigamente eram de pastor de Redondo, Reguengos, Elvas e Baixo Alentejo por causa do burel, que era tecido à mão com fio grosso. Quando o torciam em pequenos teares ainda trazia o sebo da ovelha e como eram tecidos à mão o fio era mais grosso. Era isso que o tornava impermeável”.

Para que se veja a diferença, um capote alentejano de Santa Eulália costumava pesar à volta de 4,5 quilos e hoje não chega aos 3 quilogramas. A diferença está no método de tecelagem. Os pequenos teares artesanais foram substituídos por outros industriais e o fio já não sai tão grosso.

Enquanto houver burel

José Alpedrinha ainda utiliza o burel para fazer samarras e capotes, mas poderá vir a ter que se adaptar aos tempos. E isto porque, afirma, “antes havia muitas fábricas movidas a água na aba da Serra da Estrela mas hoje já só há uma fábrica no país a fazer o burel. Eu e o fabricante até brincamos e digo-lhe que quando acabar também eu acabo, mas há-de haver uma alternativa…”

José Alpedrinha continua a cortar as peças

Enquanto a fábrica continuar a fornecer o burel, as samarras e capotes de Santa Eulália continuam a ser feitos como o eram nos já longínquos anos 30 do século passado. Depois se verá…

Mesmo a pele fofa e quente das golas é feita tradicionalmente nesta alfaiataria onde não entram produtos sintéticos. “Nos anos 1990 entrou a pele de raposa quando o capote alentejano começou a ser usado pelas classes altas” e a peça ficou ainda mais cara. “É por isso que os chineses não a fazem”, brinca José Alpedrinha. Mas a pele de borrego é ainda o agasalho preferido para a gola. “Temos uma fábrica de curtumes muito boa em Amiais de Cima, Alcanena, e só trabalhamos com ela. É o nosso borrego que temos na gola” que é cozida à mão no andar de cima do estabelecimento.

Aqui, perfilam-se as máquinas de costura junto à parede e o centro é uma enorme mesa de madeira onde o tecido é cortado de acordo com os moldes. O grande segredo do alfaiate José Alpedrinha é manter todo o trabalho como o aprendeu, sem dar azo a inovações.

Porque o que sai desta unidade tem nome em todo o lado. São conhecidas e procuradas as samarras de Santa Eulália apesar de Alpedrinha não publicitar o seu produto. “A minha publicidade é o passa-palavra. Os clientes compram e ainda são eles que me fazem a publicidade. Saiem satisfeitos com as samarras e os capotes alentejanos que aqui fazemos”.

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Jorge Montez (texto) Miguel Montez (imagem): Jorge Montez nasceu e fez-se jornalista em Lisboa, mas quando o século ainda era outro decidiu mudar-se de armas e bagagens para Viana do Castelo. É repórter. Viveu três meses em Sarajevo quando os Balcãs estavam a aprender os primeiros passos da paz, ouviu o som mais íntimo da terra na erupção da Ilha do Fogo e passou cerca de um ano pelos caminhos do Oriente.
Miguel Montez - Mesmo quando não está com a máquina pensa nas cores e nos enquadramentos. A fotografia é paixão e vai ser profissão. É curioso por natureza. Gosta de conhecer locais e pessoas e delicia-se quando descobre sabores novos. Este é um projeto à sua medida. Já foi voluntário no estrangeiro e tocou em festivais de música.

Ver comentários (17)

  • Bom dia
    Pode me indicar se estam abertos no mes de setembro em Santa Eulalia
    Vou pelas festas de sao Mateus em Elvas e gostaria lhe comprar um capote o uma samarra
    Um abraco

    • Olá, fizemos uma reportagem sobre o alfaiate José Alpedrinha, de Santa Eulália. Não podemos responder à sua questão.
      Poderá contactar o alfaiate através do número 268 671 139.
      Abraço

  • Bom dia
    Gostaria de saber se efectuam vendas à cobrança e, qual o preço para 1 capote de senhora c/1 aba cor coral ou vermelha tam. 85.
    Gratos pela v/atenção
    Aguardo v/comentárioa.
    Cump.

    • Olá,
      O Portugal de Lés a Lés fez uma reportagem sobre o alfaiate José Alpedrinha, de Santa Eulália. Somos jornalistas e, por isso, não podemos responder à sua questão.
      Poderá contactar o alfaiate através do número 268 671 139.
      Obrigado por passar por cá

  • boa tarde
    gostava de saber qual o preço para um capote para homem com 1,72 de altura ?
    cumprimentos
    jose mendes

    • Olá amigo José Mendes,

      O Portugal de Lés a Lés fez uma reportagem sobre o alfaiate José Alpedrinha, de Santa Eulália. Somos jornalistas e, por isso, não podemos responder à sua questão.
      Poderá contactar o alfaiate através do número 268 671 139.

    • Olá,
      O Portugal de Lés a Lés fez uma reportagem sobre o alfaiate José Alpedrinha, de Santa Eulália. Somos jornalistas e, por isso, não podemos responder à sua questão.
      Poderá contactar o alfaiate através do número 268 671 139.

  • Fui de Lisboa a Sta. Eulália comprar o meu capote, que fez a delícia da família e o meu conforto. Produto nacional, não se percebe a razão de quase deixarem morrer uma indústria que nos permite gastar menos e adquirir com maior qualidade. Grata pela reportagem.

  • Caros Senhores
    agradeço a indicação do preço de um capote castanho, com gola de lã preta, de burel.

    Muito obrigado

    Mário Eurico Lisboa

    • Olá,
      O Portugal de Lés a Lés fez uma reportagem sobre o alfaiate José Alpedrinha, de Santa Eulália. Somos jornalistas e, por isso, não podemos responder à sua questão.
      Poderá contactar o alfaiate através do número 268 671 139.

    • Olá,
      O Portugal de Lés a Lés fez uma reportagem sobre o alfaiate José Alpedrinha, de Santa Eulália. Somos jornalistas e, por isso, não podemos responder à sua questão.
      Poderá contactar o alfaiate através do número 268 671 139.

    • Boa tarde,

      O Portugal de Lés a Lés fez uma reportagem sobre o alfaiate José Alpedrinha, de Santa Eulália. Somo jornalistas e, por isso, não podemos responder à sua pergunta.
      Poderá contactar o alfaiate através o número 268671139

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