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Hotel Meira de volta à excelência gastronómica

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A cozinha do Hotel Meira, em Vila Praia de Âncora, está de regresso aos seus melhores tempos. Refeições temáticas, pratos de espantar e uma consistente preparação fazem com que o estabelecimento familiar volte a figurar por mérito próprio em qualquer roteiro gastronómico.




A lampreia preparada com esmero, os sabores do mar à mesa e as tripas são alguns dos pontos obrigatórios da carta do Hotel Meira. O estabelecimento está a reinventar a sua cozinha e sob a batuta do chef Álvaro Costa a ganhar rápida projeção no roteiro gastronómico nortenho.

A carta cuidada é uma homenagem a Felisbela Brito, a fundadora da casa que, reza a tradição, tinha mãos mágicas. Ia gente do Porto comer as suas tripas, num tempo sem autoestradas, e as lampreias que preparava tinham “um gosto como não havia outro”.

Os tempos mudaram, as gerações passaram e o restaurante do hotel Meira pautou-se sempre por uma confeção honesta mas que não atraía multidões. Agora, desde o início de janeiro, a música é outra. Álvaro Costa, o conceituado chef nortenho, é como que o maestro que torna a cozinha afinada e coloca na mesa dos comensais pratos que, no palato, supreendem pela harmonia.

Um dos pratos emblemáticos do Hotel Meira agora reinventado por Álvaro Costa

A parceria entre o Meira e Álvaro Costa tem resultado. As refeições temáticas levam a sala a esgotar a sua capacidade e os convivas retornam ao restaurante de decoração simples e moderna.

Ao almoço da semana mantêm-se os menus, agora cuidados, mas é à noite e aos fins-de-semana que o restaurante inova. Os jantares de sexta-feira são dedicados a apenas um produto, tendo o polvo dado o pontapé de saída. Estas são refeições de degustação que vão criar escola. Depois há buffet do mar ao jantar de sábado e o outro a pensar na família para jantar. Servem ainda jantares temáticos em que os vinhos e os pratos casam em sugestões por vezes arrojadas que resultam em cheio.

É bom ver uma casa de grandes tradições voltar aos seus melhores dias e por isso este artigo. Desde que o chef Álvaro Costa tomou conta da cozinha do Hotel Meira e se tornou também responsável pelos vinhos já por duas vezes jantámos no simpático estabelecimento de Vila Praia de Âncora.

As duas refeições que lá comemos foram memoráveis, que é – julgamos – o máximo que se pode dizer de comida. E como é que o sabemos? Quando damos por nós a descrever um prato que nos tinha sido apresentado no primeiro dos jantares e ouvimos a réplica “já tinha ouvido falar”.

A corvina em cabidela do mar tem tudo para se tornar um prato-bandeira da coinha do Hotel Meira

Em causa está uma corvina com cabidela do mar que saiu da imaginação de Álvaro Costa. Em restaurante do Alto Minho, sirva-se o arroz escuro de aroma forte e avinagrado. Quando o prato chega à mesa – como todos muito bem apresentado – o olhar vê o tradicional arroz de cabidela e o aroma do vinagre ajuda ao engano. Mas quando por fim o levamos à boca, as papilas gostativas sorriem com os sabores do mar que o choco e a lula lhe emprestam. Não há que enganar, este vai ser um prato de bandeira do reinventado restaurante do Hotel Meira.

A segunda vez que nos deslocámos a Vila Praia de Âncora, a lampreia foi a rainha da festa. Se o tempo estiver a condizer convém não ir em cima da hora e estacionar o carro pela marginal, para que os nossos passos possam seguir pela avenida fronteira à praia e os olhos descansar no contraste entre o extenso areal e o imenso mar.

O jantar da lampreia foi também ele uma experiência. Álvaro Costa não inventou muito e essa é uma das suas maiores qualidades: pega nos ingredientes que fazem sentido (e que aqui são os do mar e da serra) e potencia os seus sabores, dando-lhes aquele toque que só os mestres conseguem mas sem de alguma forma os desvirtuar.

Numa refeição que teve como ementa carpaccio de lampreia fumada e salada de folhagens, lampreia no forno em fricassé e lampreia à bordalesa (com a graça de a sobremesa ter sido uma lampreia de ovos), a surpresa esteve nos vinhos escolhidos para a harmonização. Em terra de vinhos verdes, Álvaro Costa convidou os alentejanos da RibaFreixo para acompanharem. E quem disse que os vinhos alentejanos não convivem com a lampreia enganou-se rotundamente. A harmonização foi feita num primeiro momento com um Pato Frio Grande Escolha Antão Vaz, de 2016, tendo a lampreia no forno em fricassé tido a honra de ser unida a um Gáudio Espumante Brut Nature (uma edição exclusiva de 1.000 garrafas) e um tinto Gáudio Reserva de 2014 a ser o escolhido para acompanhar com distinção a lampreia à bordalesa.

Com uma carreira que o levou a dirigir cozinhas de hotéis com estrelas Michelin na Córsega, Paris e Milão,. De novo em Portugal, tem no seu curriculum o Sheraton Porto, o Grupo Pestana ou o Porto Palácio Congresso & SPA. Agora os clientes do Hotel Meira podem deliciar-se com as suas iguarias

“Vila Praia de Âncora está no início da região de excelência da lampreia do rio Minho”, afirma Álvaro Costa, lembrando a muita procura que este produto tem. “Nós também queremos ser uma referência, não só pelo projeto que estamos a desenvolver, mas também porque estamos a dignificar um produto que é excelência da região” É por isso que até finais da época, haverá lampreia no Hotel Meira, até porque esta está na “matriz da génese do hotel. A sua fundadora era uma excelente cozinheira e isso está na história até dos roteiros turísticos que existem dessa época, pelo que não faria sentido trazer a minha cozinha pura e dura para cá. O que faz sentido é trazer a minha técnica e a minha visão das coisas, mas também tentar recuperar os ex-libris daquilo que foi o sucesso doutros tempos”.

Renovada, reinventada, a cozinha do Hotel Meira está de volta aos melhores que o tornaram numa referência da gastronomia alto-minhota, para gáudio de quem gosta de boa comida.

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Jorge Montez: Nasceu e fez-se jornalista em Lisboa, mas quando o século ainda era outro decidiu mudar-se de armas e bagagens para Viana do Castelo. É repórter. Viveu três meses em Sarajevo quando os Balcãs estavam a aprender os primeiros passos da paz, ouviu o som mais íntimo da terra na erupção da Ilha do Fogo e passou cerca de um ano pelos caminhos do Oriente.
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