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As festas dos rapazes de Trás-os-Montes

Festas dos Rapazes transmontanas

Os caretos, chocalheiros e carochos invadem as aldeias do nordeste transmontano entre o Natal e os Reis, num ritual pagão que hoje é dedicado a Santo Estevão. As festas dos rapazes são uma alternativa para todos aqueles a quem o espírito natalício não bate forte nesta época.

Com a sua origem a perder-se nas brumas do tempo, as festas dos rapazes são um dos mais genuínos exemplos da cultura popular portuguesa. Dia 25 de dezembro, rapazes solteiros saem à rua mascarados, perseguem raparigas e põem a nu os boatos das aldeias. É este um ritual de limpeza e ressurgimento que coincide com o solstício de inverno e que marca o começo de um novo ciclo.

O primeiro mártir cristão

Santo Estevão foi o primeiro mártir cristão. Logo após a morte de Jesus, tornou-se num dos primeiros sete diáconos da igreja nascente. Foi detido pelas autoridades judaicas e condenado por blasfémia a ser apedrejado até à morte

O Abade de Baçal aventa a hipótese de as festas dos rapazes serem resquício do festival saturnino dos romanos, altura de muita folia. Mas muitos autores apontam para que as suas origens sejam ainda mais remotas. Independentemente de quando nasceram, as festas que unem as aldeias transmontanas foram apropriadas pela igreja, sendo hoje dedicadas a Santo Estevão, o primeiro mártir católico.

As festas dos rapazes realizam-se um pouco por todo o nordeste transmontano e ainda na vizinha Espanha, num espaço geográfico muito definido que originou uma candidatura a Património Imaterial da Humanidade, sendo Bragança o concelho onde a tradição é mais forte.

Neste concelho, os rapazes saem à rua no dia 25 de dezembro em Aveleda, Babe, Deilão, Sacoias,  Vage, Grijó da Parada, Rebordãos, Samil, São Pedro, Salsas, Rio Frio e São Julião. Podem ser chamadas Festas dos Rapazes ou dar-se-lhe o nome do santo e ainda ser designadas por Festa da Cabra. Cada aldeia tem tradições próprias, mas na generalidade é seguido o mesmo guião em todas elas.

No concelho de Miranda do Douro a tradição mantém-se firme na sede do concelho e nas aldeias de Duas Igrejas, Póvoa e Constantim. Também em Mirandela é possível ver-se a tradição dos caretos na aldeia de Torre de D. Chama e em Mogadouro há a Festa do Chocalheiro em Bemposta (25 de dezembro e 1 de janeiro) e a Festa dos Velhos em Vale do Porco.

Se nunca participou nas festas dos rapazes rume a Trás-os-Montes neste Natal e festeje o solstício de inverno com os caretos, chocalheiro e carochos.

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Jorge Montez: Nasceu e fez-se jornalista em Lisboa, mas quando o século ainda era outro decidiu mudar-se de armas e bagagens para Viana do Castelo. É repórter. Viveu três meses em Sarajevo quando os Balcãs estavam a aprender os primeiros passos da paz, ouviu o som mais íntimo da terra na erupção da Ilha do Fogo e passou cerca de um ano pelos caminhos do Oriente.

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