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Fábrica do Chocolate: o doce charme vianense

Quarto Willy Wonka é o mais procurado

Pelo centro de Viana já pairou um leve aroma achocolatado. Agora, no mesmo edifício onde laborava a mais antiga fábrica de chocolate portuguesa encontramos um hotel temático, com restaurante e museu.

O Fábrica do Chocolate é um hotel de 4 estrelas onde, como o nome indica, tudo tem a ver com o chocolate. Mas não se pense estarmos perante um feérico parque temático. É como se provássemos um chocolate suíço: sóbrio e elegante, que deve ser degustado com os sentidos alerta. Mas é mais do que um hotel, é também um restaurante sob a batuta do chef Pedro Martins Araújo, e um interessante museu interativo.

Vamos por partes, como se de uma tablete se tratasse. Comecemos pelo edifício em que foi mantida a fachada onde ainda se lê “A Fábrica do Chocolate”. Foi aqui que a fábrica laborou durante perto de um século. Mas entrando-se, estamos num pequeno hotel que se vê ter nascido de uma história de amor, com a atenção ao pormenor a surgir a cada momento. E isso é algo que se sente e que tem reflexos nas críticas que os clientes têm deixado.

Repare-se que não utilizámos a palavra clientes ao invés de hóspedes. É que o restaurante está aberto à comunidade e o museu faz as delícias de todos quantos por lá passam.

Suite Regina
Suite Hansel & Gretel
Suite Romance
Chocolatoterapia

O hotel

Tinha sido dito que íamos por partes e vamos fazê-lo. O truque, como quando provamos o chocolate, é não cair na tentação de tudo querer de uma vez.

O hotel tem 18 quartos e todos têm nome, decoração personalizada e um tema relacionado com o chocolate. O mais popular é o Willy Wonka, decorado a partir do filme Fábrica de Chocolate e inspirado na versão de Tim Burton. Mas há também quartos e suites sobre o cinema e histórias em que o chocolate é protagonista. E outros que resultam de parcerias com fabricantes portugueses e cuja decoração lhes foi entregue. É assim que surgem as suites Regina e Casa Grande que se desenvolvem em duplex, permitindo uma experiência para toda a família.

O Fábrica do Chocolate ocupa o edifício onde funcionou, entre 1922 e 2004, Avianense.
A mais antiga manufatura de chocolate portuguesa foi criada em 1914 por José Lima e atualmente labora em Barcelos, para onde foi deslocalizada depois de comprada pelos seus novos proprietários

As amenities colocadas à disposição dos hóspedes nos quartos têm também aroma a chocolate e há mesmo uma sala e profissionais preparados para fazer um tratamento de chocolatoterapia. Não há é banheiras de chocolate nem grandes aventuras. Aqui, trata-se mais de fazer voar a imaginação. “Não somos nenhum parque temático e a imersão do cliente no chocolate é feita à medida dos seus desejos” afirma Madalena Dinis ao Portugal de Lés a Lés.

É por isso que se há quartos que são vibrantes na sua decoração, outros há que apostam na discrição e no pequeno apontamento. A Sales & Marketing Manager do Fábrica do Chocolate exemplifica: “temos vários workshops, desde a degustação básica de chocolate que também pode ser feita por crianças, até uma prova mais específica que funciona em tudo como a de vinhos”.

O restaurante

No restaurante do Fábrica do Chocolate, podemos tentar uma experiência completamente diferente ou optar por uma ementa mais tradicional. Ao fim e ao cabo, estamos no Alto Minho e quem cá vem procura a gastronomia regional que lhe deu fama. O Chef Pedro Martins Araújo desenhou uma ementa “onde encontramos os pratos mais regionais e outros de autor”. É possível encontrar na ementa um ‘naco do lombo com batata loura, legumes e molho de cacau’ ou uns ‘rojões à moda da Fábrica’ e, de segunda a sexta os comensais podem seguir a sugestão do Chef num almoço a preços bem convidativos. O Bacalhau com creme de cenoura e migas de grelos com broa, crispy bacon e azeitona é um dos pratos mais procurados.

Bacalhau com creme de cenoura e migas de grelos com broa, crispy bacon e azeitona
À comida tradicional junta-se a de autor
A maioria do chocolate utilizado é feito no local

Há, pois, aqui um continuar o tema global do Fábrica de Chocolate mas tendo em atenção os pratos mais tradicionais vistos pela lente do Chef, cuja arte nos proporciona uma experiência de sabores e texturas ricos e diversificados. Alguns dos pratos são confecionados com o grué de cacau – a fava de cacau – de aroma intenso onde já está o chocolate inteiro mas que tem a particularidade de ser amargo.

É nas sobremesas que o chocolate reina em todo o seu esplendor. Do pudim de chocolate à tarte tartin de banana com calda de chocolate e como piece de resistance o confronto de mundos com um trio de mousses feitas com chocolates provenientes de Madagáscar, Venezuela e Equador.

Diga-se que a imensa maioria do chocolate servido no restaurante e também na loja do hotel é feito no local.

O interativo Museu do Chocolate é um espaço muito bem conseguido

O museu

É na cave do edifício que as portas se abrem para sabermos tudo. O Museu da Fábrica do Chocolate é um espaço muito bem conseguido que nos permite uma viagem no espaço e no tempo. O museu interativo possibilita uma experiência diferente, divertida e pedagógica pelas origens do chocolate e pela forma como ele mudou e se impôs nas nossas vidas.

Sabia que o cacau chegou à Europa pela mão dos espanhóis que o encontraram nas primeiras viagens que fizeram às Américas, que a Igreja Católica chegou a proibi-lo e que só a partir do século XIX deixou de ser apenas uma bebida?

Uma viagem pelo museu acompanhados por um áudio-guia leva-nos à Roça Rio Lima em São Tomé e Principe, a um filme quadridimensional e a uma fábrica chocolateira. É-nos também dada a conhecer a presença do chocolate nas artes, na gastronomia, nos cultos e nas ciências.

O Fábrica do Chocolate é um museu, um restaurante e um hotel. Um conceito diferente e uma aposta ganha.

 

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Jorge Montez: Nasceu e fez-se jornalista em Lisboa, mas quando o século ainda era outro decidiu mudar-se de armas e bagagens para Viana do Castelo. É repórter. Viveu três meses em Sarajevo quando os Balcãs estavam a aprender os primeiros passos da paz, ouviu o som mais íntimo da terra na erupção da Ilha do Fogo e passou cerca de um ano pelos caminhos do Oriente.
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