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Samos, cabeças e línguas: o bacalhau é rei em Ílhavo

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Imagine entrar num restaurante e comprar uma experiência à base de bacalhau. É isso mesmo que 14 estabelecimentos de Ílhavo propõem até domingo. O Festival de Sabores de Bordo está na sua primeira edição mas recomenda-se.




Ílhavo é há muito considerada a Capital do Bacalhau, mercê da grande ligação que tem à sua pesca e também ao seu consumo. Agora, pode pôr mais uma medalha na sua lapela, com este festival em que os sub-produtos do bacalhau é que reinam.

Pratos com samos, línguas e caras de bacalhau supreendem os comensais que entram e pedem a experiência gastronómica. Conhecidos desde sempre em Ílhavo, estas partes menos nobres do fiel amigo são pouco conhecidas fora da zona. São os pratos que os pescadores que andavam nos mares da Terra Nova e da Gronelândia confecionavam e por isso se chamam a estes os sabores de bordo.

Patrícia Gomes, a chef nacional especialista em peixe e docente na Escola Superior de Turismo e Tecnologia do Mar, afirma que “vê-se que os restaurantes estão altamente empenhados e acho que isso se vai sentir à mesa”

Chef Patrícia Borges

Comecemos devagar que é assim que se devem iniciar as refeições e as experiências. Comecemos por umas patanistas de bacalhau ou por uns samos de escabeche.

Depois, passemos aos pratos principais. Avancemos para umas carinhas de bacalhau fritas com arroz de feijão malandro, para um caldo de línguas de bacalhau com ovo escalfado e pada de vale de Ílhavo torrada, ou para a tradicional Chora, a sopa de caras com arroz.

Continuemos então com uma bacalhoada gandaresa, com uma feijoada de samos ou com línguas de bacalhau fritas com salada mista e arroz de feijão.

Degustemos tudo dando tempo a cada prato para passar do palato ao cérebro e ficamos com uma experiência. É esta a proposta do Festival de Gastronomia de Bordo que decorre até domingo em Ílhavo e ao qual aderiram 14 restaurantes.

Vejamos a coisa ainda de outro modo, olhemos para os espaços e para os seus clientes, e temos outras tantas experiências. Passámos dois excelentes dias em Ílhavo a propósito dos sabores do bacalhau mas que nos levaram a entrar em bacalhoeiros, subir ao mais alto farol português, conhecer a bela Capela da Vista Alegre, ou ver o sol deitar-se, grande e vermelho, nas águas calmas do oceano. São outras tantas experiências.

Mas voltemos ao fiel amigo. Foram dois dias em que apenas comemos bacalhau e tínhamos receio de que a experiência se tornasse monótona. Nada mais errado.

Não apenas as propostas gastronómicas eram muito diversificadas como os espaços também. Em comun em todos os restaurantes que conhecemos só a simpatia, que parece ser transversal às gentes de Ílhavo.

O primeiro restaurante em que entrámos foi em pleno porto de pesca de Ílhavo, ao pé dos armazéns de aprestos e da lota, já depois de passados os portões. O restaurante Bar da Lota é simples e aposta na frescura dos produtos. Além do bacalhau, Maria Amélia Oliveira e Arnaldo Maia, o casal proprietário que trata da cozinha, nunca sabe que peixe vão servir aos clientes. Serão os que o mar der naquele dia.  Além dos peixes grelhados e de bacalhau e carinhas, a sua carta ainda tem caldeirada de enguias e lulas e chocos. Também há carne grelhada, que é fundamentalmente consumida pelos pescadores.

Há noite tivemos uma experiência completamente diferente, no Canastra do Fidalgo, em plena Costa Nova. Tínhamos marcação e quando chegámos, a porta abriu-se e somos brindados com um “bem-vindo, Jorge” que nos deixou com um sorriso na cara. Este é um restaurante de apenas 28 lugares, de decoração simples onde sobressai o riscado que tornou famosas as casas da povoação. O serviço é muito atencioso e profissional e a comida preparada pelo chef Leandro Mota absolutamente divinal. Os samos de escabeche é prato da sua imaginação, assim como a bacalhoada gandaresa. Comi uma refeição de que me hei-de lembrar por muitos e bons anos e que terminou com um bolo de chocolate com gelado de amendoim e caramelo absolutamente divinal.

A última das experiências culinárias que este Festival da Gastronomia de Bordo foi no Restaurante Bela Ria, na Gafanha de Aquém, um estabelecimento familiar que tem Jorge Pinhão ao leme da cozinha de cariz tradicional. Aqui, entra-se pelo café e só depois se chega a uma pequena sala onde o bacalhau é absolutamente rei e que tem um bacalhau à casa de que vos falaremos noutra ocasião.

Senão tem nada na agenda, aproveite para ir até domingo a Ílhavo e abraçar uma experiência culinária. A lista dos restaurantes aderentes e da programação está no site do município. Se já tiver planos para o fim-de-semana, desmarque-os, porque esta experiência vale mesmo a pena.

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Jorge Montez: Nasceu e fez-se jornalista em Lisboa, mas quando o século ainda era outro decidiu mudar-se de armas e bagagens para Viana do Castelo. É repórter. Viveu três meses em Sarajevo quando os Balcãs estavam a aprender os primeiros passos da paz, ouviu o som mais íntimo da terra na erupção da Ilha do Fogo e passou cerca de um ano pelos caminhos do Oriente.

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