Portela de Alvite: uma feira de gado que se deve conhecer
Todos os anos, em Setembro, as vacas Cachena e os garranos são reis em Portela de Alvite. A feira de gado que se realiza na pequena aldeia de Sistelo, no Parque Nacional da Peneda Gerês, é genuína e merece ser conhecida.
Dura um fim-de-semana inteiro a feira de gado que anualmente se realiza anima Portela de Alvite. Há concurso de gado, negócios com os cavalos, as vacas ou as cabras e até corridas de cavalos no cimo do monte. São fundamentalmente as pessoas das redondezas que acorrem à aldeia de Sistelo, Arcos de Valdevez, mas esta é uma festa que vale mesmo a pena conhecer pela sua genuinidade.
Antes de mais, o ambiente. Não há instalação sonora a debitar músicas “da moda” em altos berros. O que se houve são os animais e as conversas que se cruzam, o bruá da multidão. De quando em vez, o vendedor ambulante anuncia pelo seu microfone que está um mãos largas a vender “não 6, nem 12, mas 24 pares de meias por 5 euros!”.
As mulheres acomodam-se na sua maioria nos bancos de pedra do parque das merendas e os homens conversam e passeiam pela zona sombreada por imponentes carvalhos. E andam muitos de cajado na mão. Muitos deles porque o usam no seu dia-a-dia, mas a maioria por estarem na feira de gado e nestes dias o cajado ser adereço obrigatório.
Nos currais permanentes, há cabras, vitelos, garranos e cavalos há venda, mas é sobretudo nos frescos da sombra que se fazem os negócios. Que podem ser de troca de animais, cabras por cavalos ou vice-versa, ou de compra e venda. E nestes últimos casos, o regatear é ponto de honra, numa autêntica dança de gestos e palavras de que todos gostam e que mete gestos exagerados e muito vernáculo.
Depois de muito regateio, Amadeu Sousa conseguiu vender três cabras por 150 euros, o preço que queria. Começou por pedir 60 euros por animal e os compradores contrapuseram 30 euros, a conversa foi fluíndo, os impropérios também e chegou-se ao preço que todos de início sabiam ser o justo. Mas até lá chegarem, divertiram-se, e isso é parte integrante da festa.
A feira de gado de Portela de Alvite faz-se desde sempre, mas há uns anos ganhou o nome de Feira Interfreguesias, porque a localidade pertence a duas freguesias e outros tantos concelhos, Arcos de Valdevez e Monção.
Além dos garranos, que são a razão de ser da feira, juntamente com as típicas vacas cachenas, há também música. Encontram-se as concertinas e juntam-se as rusgas típicas para animar as centenas de pessoas que acorrem à pequena aldeia de Sistelo.
Mas outro dos pontos fortes desta feira tradicional é a corrida de cavalos que todos os anos encerra o certame. No alto de um monte cimeiro a Portela de Alvite, foi construído um hipódromo rudimentar. Enquanto cá em baixo se ouve ainda as rusgas, as pessoas começam a afluir ao monte. Os das redondezas atalham caminho e todos os outros seguem a estrada ou as pisadas dos primeiros. Cá em cima, o cenário é fabuloso. Vêem-se os socalcos de Sistelo que são uma das 7 maravilhas e, acima de tudo, a primeira paisagem portuguesa considerada Património Nacional, e os picos da serra da Peneda.
É neste cenário que evoluem os cavalos. Correm contra o relógio em passo travado, um movimento muito confortável para o cavaleiro e que era utilizado pelos nobres da Idade Média nos desfiles. Ao contrário do trote, o cavalo avança lateralmente, colocando em simultâneo as pernas anterior e posterior.
Como os cavaleiros não são profissionais, a corrida faz-se contra-o-tempo, vista por centenas de pessoas que descontraidamente aproveitam o final de tarde e mais uma das principais atrações desta feira que, sendo pequena, é muito genuína e merece visita.