A lenda da Lagoa das Furnas -Povoação, São Miguel, Açores
Há muito, muito tempo, no local onde se encontra atualmente a Lagoa das Furnas, existia uma pequena aldeia onde se vivia sem guerras e sem brigas, sem invejas e sem ódios e onde não faltava nunca a ninguém alegria e pão em cima da mesa.
Sua gente era trabalhadora, abençoada com terra fértil e rica de águas, havia festa permanente e o tempo rolava lentamente.
Certa manhã, como de costume, um rapaz dali saiu de sua casa com o cântaro para ir à fonte. Mas lá chegado, oh, que surpresa desagradável. A água, vida pura e limpa de sempre, estava agora salgada e intragável como nunca antes.
Espantado e assustado, correu a dar o alarme. Mas tão rica de águas boas era a zona que ninguém lhe prestou atenção.
Uns dias depois, ganhou coragem para voltar e…inacreditável! Na pequena bacia de água que se formava à saída do manancial, os peixes saltavam e caiam mortos em terra.
Voltou a correr para a aldeia, gritando apavorado. Mas não, nem assim o acreditaram, continuando a faina alegre do costume.
Só o avô do jovem o acudiu. Aterrado com aquela visão, gritou, gritou, aconselhando aquelas gentes a subir aos montes para verificar se haveria sinal de novas terras no horizonte.
Palavras vãs. Só o rapaz e o velho subiram, subiram, até que dos cumes, avistaram uma nova ilha entre as brumas e névoas do horizonte. Logo desceram a toda a pressa, incitando os aldeões a fugir já que tinha emergido do mar a Ilha Encantada das Sete Cidades, sinal que fazia prever terríveis mudanças.
Mas eles ignoraram-nos, continuando na folia de sempre.
O velho e o neto, atemorizados a valer, esperavam. Como nada acontecesse, uns dias depois, pegaram no gado e fizeram rumo a uma povoação vizinha, onde o esperavam vender.
Passado algum tempo e sem novidade nenhuma, aí estavam novamente no caminho de volta à aldeia.
Mas alto! Algo mudara. Onde antes existiam vales, havia agora montanhas. Os montes, arrasados. A aldeia, nem vê-la. Tudo fora soterrado!
No local, uma nova lagoa de águas límpidas borbulhava debaixo do sol. É a Lagoa das Furnas.
Desde então, o povo acredita que os aldeões continuam a viver debaixo e em volta da Lagoa, invisíveis.
Deles, só as bolhas de gás vulcânico e os fogos fátuos. Dizem que continuam a cozinhar….
Ilustração de Alexandra Faria de Almeida
Sou Alexandra, citadina de Lisboa, mas agora rendida ao campo. Com formação em Arquitectura de Interiores e Mobiliário e mestrado em Design de Informação e Gráfico, fiz diversos cursos como gravura, fotografia, papier maché e pintura.
Cresci entre viagens e vivi dois anos em Macau e outros dois em Inglaterra.
Recebo a cor e o cheiro dos lugares por onde passo. Daí crio, com muito amor, as peças para a minha marca Avedouda®.
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