Casa da Ínsua: o tesouro de Penalva do Castelo
A Casa da Ínsua, em Penalva do Castelo, é um hotel histórico instalado num solar barroco. Mas é também um museu que pode ser visitado por quem o quiser. Mandado construir no final do século XVIII, foi um dos primeiros locais com eletricidade em Portugal.
Quem chega e percorre as ruas de Penalva do Castelo não dá por ela. E, no entanto, a Casa da Ínsua está encostada ao centro da povoação, com uma das entradas para os seus jardins mesmo nas traseiras da Câmara Municipal.
O mais bem guardado segredo
A Casa da Ínsua é, assim, o mais bem guardado da vila às portas de Viseu. É o único hotel português que faz parte da rede de paradores espanhola, mas é muito mais do que isso. É um local de visita obrigatória por quem andar por aqueles lugares mágicos de Lafões.
Na visita à região que fizemos a convite do Turismo do Centro de Portugal, alguém nos abriu o apetite dizendo que a casa “é um paraíso na terra”. Dependerá muito da definição que fizermos de paraíso. O que encontramos é um solar impecavelmente restaurado, um interessante núcleo museológico e jardins à francesa e também à inglesa.
Também conhecida como Solar dos Albuquerque, a Casa da Ínsua é considerada pela Direção-Geral do Património como sendo “um dos mais significativos solares barrocos do nosso país”. É todo o conjunto que se destaca neste complexo que também pode ser visitado. A casa e o jardim foram mantidos ao longo de gerações.
Chega-se à casa por uma das várias portas. A que se situa perto do município abre para uma álea fresca que nos leva até a um edifício completamente coberto por videiras virgens (que não dão uva). Ao lado, um segundo portão abre para o pático fechado onde pela primeira vez se avista a Casa da Ínsua, de perfeito traçado barroco, com dois torreões nos topos e a capela do lado esquerdo.
O construtor da Casa da Ínsua e uma misteriosa carta
A Casa da Ínsua foi mandada construir por Luís de Albuquerque de Mello Pereira e Cáceres que se foi distinguindo ainda muito jovem pela sua inteligência e pelo seu espírito militar. Quando era Ajudante de Ordens do Marechal de Campo Francisco Mac-Lean, recebe uma carta assinada pelo Marquês de Pombal. O governante pedia-lhe para ir a Lisboa, pois tinham assuntos a tratar. Aos 31 anos, Luís de Albuquerque é convidado para Governador e Capitão Major dos Estados de Cuiabá e Mato Grosso, no Brasil.
Não se pense que Luís de Albuquerque ficou entusiasmado. Bem pelo contrário. Reza a lenda que, de regresso a casa, estava mesmo a ponderar recusar o convite e que só o seu pai o convenceu, prometendo-lhe umas vergastadas com um bastão se não anuísse ao contive. Esse bastão está hoje em exposição na Casa da Ínsua.
Luís Albuquerque não só foi para o Brasil, como se tornou um excelente governador, promovendo o mapeamento de Mato Grosso e aumentando as fronteiras, como apadrinhando uma exposição “philosófica” para registar a flora e a fauna da zona.
Construiu o Real Forte do Príncipe da Beira, que acabaria de ter um papel de destaque em repelir as pretensões castelhanas e o seu dinamismo foi de tal ordem que um comandante castelhano o apelidou de “o mais ambicioso dos governadores portugueses”. Luís Albuquerque foi o mais longevo dos governadores de Mato Grosso, tendo ficado no cargo 19 anos. Foi do Brasil que enviou os planos para a construção da Casa da Ínsua.
Uma herança “maldita”
Ainda hoje, a Casa da Ínsua está na família que descende indiretamente de Luís Albuquerque, que concessionou a exploração do hotel ao grupo Montebelo, da Visabeira. Desde sempre que a herança funcionou em sistema de morgadio. Quer isto dizer que existiam regras muito específicas sobre quem recebia os bens, que não podiam ser alvo de partilhas após a morte do proprietário.
Luís Albuquerque morreu em 1797, nunca se tendo casado nem tido filhos. Assim, estipulou que a Casa da Ínsua passasse de tios para sobrinhos.
Mas o morgadio da Casa da Ínsua tinha uma cláusula que era uma autêntica armadilha. Talvez com medo de que os herdeiros não concentrassem as suas energias no cuidas da propriedade, Luís Albuquerque estipulou que apenas poderiam herdar os sobrinhos que não se casassem.
A eletricidade chega à Casa da Ínsua
A primeira experiência com a eletricidade em Portugal aconteceu em 1878. No dia dos 15 anos do príncipe D. Carlos, a 28 de setembro, iluminaram-se pela primeira vez candeeiros na Cidadela de Cascais. O espanto foi grande e faziam-se verdadeiras excursões a partir de Lisboa. Uns tempos depois, esses mesmos candeeiros iluminaram a zona do Chiado.
A vila do Gerês, em 1891, e Braga, em 1893, foram dos primeiros locais a ter eletricidade. E só muito lentamente a luz elétrica foi chegando ao país, com algumas exceções fruto da iniciativa de beneméritos ou das populações.
A Casa da Ínsua desde cedo abraçou a novidade e viu como a eletricidade poderia ser uma mais-valia para a exploração agrícola. É assim que logo em 1906 é instalada uma centra elétrica que aproveitava a energia hídrica e que fazia funcionar o lagar de azeite.
Um hotel que também é um museu
De tudo isto se pode saber nos vários núcleos museológicos da Casa da Ínsua que, para além de ser um hotel, é também um museu visitável. Os hóspedes podem livremente as instalações.
Mas mesmo quem não esteja no hotel histórico tem hipótese de conhecer um pouco mais da história da casa e do seu construtor. Há visitas guiadas, mas também é possível fazê-lo pelos seus próprios meios. O preço das visitas deverá ser indagado junto do hotel, sendo que a entrada em todos os espaços museológicos custa 3 euros.
Os jardins da Casa da Ínsua
Deixámos propositadamente para o fim os jardins da Casa da Ínsua. A entrada, já se disse, é feita por um pátio fechado, mas é nas suas traseiras que o edifício barroco se nos mostra em todo o seu esplendor.
A fachada reflete-se num lago retangular, para lá do qual se abre o jardim francês, com óbvia inspiração em Versailles. Com zona aromática e alguma flora rara, é possível, por exemplo, ver a flor de lótus.
Seja neste jardim mais formal ou um pouco por toda a propriedade, há sempre pontos de interesse nos jardins da Casa da Ínsua.