Portugal de Lés a Lés

 

Belver: em terras de Guidintesta com tanto para ver

Não foram considerações de ordem paisagística que levaram os Hospitalários a aqui erguer o seu primeiro castelo, pouco depois de passarem de Ordem assistencial a militar, mas a verdade é que é em Belver que está aquela que foi a primeira sede dos monges cavaleiros.

O castelo e o Tejo

Hoje, é um marco na paisagem. Foi D. Sancho I quem doou as terras de Guidintesta, entre o Zêzere e o Tejo, à Ordem do Hospital, com a contrapartida de em Belver erguerem uma fortaleza intransponível.




Quando acabou de ser construído, em 1212, o castelo de Belver era o que de melhor a arquitetura militar conseguia e desempenhou a sua missão de defender as fronteiras do reino com tal vigor que parte do tesouro real português ficou confiado à sua guarda. Já no século XVI diz-se que aqui terá estado encarcerado outro tesouro português: Luís de Camões.

O castelo e a vila de Belver

No Centro Interpretativo do Castelo de Belver podemos hoje ficar a saber esta história que nos leva aos primórdios da nacionalidade. A sede dos Hospitalários é um bom ponto de partida para um passeio pela única freguesia do Alentejo que fica aquém do Tejo, em território que geograficamente é da Beira Baixa. Estamos em terras de Gavião.

Uma terra com identidade
Belver e o Tejo
O rio descobre o seu caminho
Castelo de Belver
Igreja Matriz de Belver
Uma praça forte
Anta do Penedo Gordo
Museu do Vinho e do Pão

Na torre de menagem, a vista alcança o vale onde o Tejo corre lá em baixo apertado entre as escarpadas colinas e também a vila que aí nasceu. Antes de a visitarmos, há que pedir para nos ser aberta a porta da Capela de São Brás e apreciar o retábulo de madeira com nichos de santos-relicários.

Na vila de Belver, o passeio leva-nos até à antiga escola primária onde foi instalado o Museu do Sabão, um dos quatro existentes no mundo, e que recebeu uma menção honrosa do Prémio de Turismo do Alentejo.

Se os museus dedicados ao sabão são tão raros, porque é que existe um em Belver? Porque durante três séculos aqui funcionou a Real Fábrica do Sabão. Há uma tradição cuja memória se podia ter perdido.

Achigã com açorda de ovas

Antes de se partir à descoberta do território, aproveite-se a gastronomia local. Existem em Belver dois restaurantes que tratam bem os ingredientes e os clientes. Falamos do Sabores de Guidintesta e de O Castelo. Nos dois casos, dá-se primazia aos peixes de rio e, em sendo época, sável e lampreia fazem as delícias dos comensais.

Paisagens de cortar a respiração

Uma das formas de conhecer a freguesia de Belver é percorrendo o trilho pedestre “Arribas do Tejo”, que em grande parte se desenvolve na margem direita do Tejo.Mas os 17 quilómetros deste percurso circular implicam alguma forma física e tempo a condizer. Pode-se optar por apenas visitar alguns dos mais emblemáticos spots do percurso, como a Anta do Penedo Gordo (em Torre Fundeira) ou o caminho da Fonte Velha, à saída de Belver, com a sua exposição de esculturas contemporâneas.

Casa Covão da Abitureira

Ainda a norte do Tejo, é de visitar o pequeno Museu do Vinho e do Pão, em Domingos da Vinha, aldeia que terá ganho o nome pelos vinhedos extensos pertença de um certo Domingos. Neste museu de apenas uma sala, mas bem cuidado, destaca-se a vara do lagar que é toda ela apenas uma árvore. Para conhecer o espaço gerido pela sociedade recreativa local o melhor é contactar com antecedência o Posto de Turismo de Gavião (241 631 210).

E quando a noite se começar a pôr, rume a um das várias casas de Turismo Rural que existem na vila. Pode optar pela Quinta do Belo-Ver ou pela Casa Covão da Abitureira, mesmo ao pé do rio e da estação ferroviária.

A paisagem deslumbrante do Observatório da Avifauna de Outeiro

O que aconselhamos vivamente é em cedo erguer. E não o fazemos por dar saúde e fazer crescer, mas porque aos primeiros alvores da manhã deve rumar a Outeiro e ao Observatório da Avifauna de Outeiro. Os últimos quilómetros são em terra batida, o percurso está bem sinalizado e é acessível a qualquer automóvel.

Convém chegar bem cedo para que se tenha hipótese de ver os grifos e as rapinas, mas se não houver nenhum que se deixe ver não dará o seu tempo por perdido. Estará perante uma paisagem de cortar a respiração, daquelas que ficará para sempre consigo.

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Jorge Montez: Nasceu e fez-se jornalista em Lisboa, mas quando o século ainda era outro decidiu mudar-se de armas e bagagens para Viana do Castelo. É repórter. Viveu três meses em Sarajevo quando os Balcãs estavam a aprender os primeiros passos da paz, ouviu o som mais íntimo da terra na erupção da Ilha do Fogo e passou cerca de um ano pelos caminhos do Oriente.

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