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Paço dos Cunhas: um restaurante essencial

Em Santar, Nelas, o Paço dos Cunhas encanta à vista e ao palato. A cozinha de autor casa aqui com um solar com mais de 400 anos. Indispensável em qualquer roteiro pelo centro do país.




Mesmo que lhe seja um pouco fora de mão, recomendamos que vá até Santar, no concelho de Nelas, para conhecer o Paço dos Cunhas, visitar o espaço e lá comer. Garantimos que não se arrependerá.

A impressionante fachada do Paço dos Cunhas

Começamos por descobrir a fachada impressionante do Paço dos Cunhas, no largo do pelourinho. A fachada é diferente dos mais comuns na zona solares barrocos. Edificado em 1609, o solar propriamente dito já desapareceu. Sobra a fachada e o portão monumental, toda a quinta e os edifícios agrícolas onde estão instalados o restaurante, o espaço multifunções e a loja de vinhos.

Os azulejos do século XVIII

Ainda antes de nos sentarmos à mesa para festejarmos com o palato, descobrimos a quinta. Frente ao grande terreiro com esplanada existe um pequeno jardim romântico, de sebes artisticamente recortadas. Mas é depois de o passarmos que nos deparamos com toda a beleza da quinta. Temos zonas sombreadas, com fontes e azulejos do século XVII e temos as vinhas, ou não fosse o Paço também produtor. Pelo meio, há plantações de ervas aromáticas e vegetais, que são utilizados na cozinha.

Henrique Ferreira, o Chef Executivo da Global Wines e criador da ementa do Paço dos Cunhas, dir-nos-à que “cerca de 90 por cento dos ingredientes utilizados na cozinha são nacionais e a grande maioria são produzidos por nós ou na região”.

Entremos agora na sala. Já pouco falta para a hora do almoço. Encontramos uma sala onde as paredes são de pedra, de aspeto robusto e, claro, antigo. A apresentação da sala é toda ela uma verdadeira apresentação do que depois nos espera: estamos num espaço que é agradável e requintado, mas sem ser pedante. Tem apenas um objetivo: tornar a experiência do comensal o melhor possível. E para isso também contribui o pessoal, que gere a sala de uma forma muito profissional e simpática.

Disse que já estávamos na hora do almoço, porque durante a semana apenas almoços são servidos no Paço dos Cunhas. Apenas ao sábado à também jantares e às segundas-feiras está encerrado.

Mas como não é o caso, sentamo-nos para uma refeição que é por si só uma experiência. Iremos acompanhar as entradas, o peixe, a carne e a sobremesa com vinhos da Casa de Santar, também propriedade da mesma empresa.

E durante todo o tempo que decorreu a refeição de conversa agradável e todo o tempo do mundo para apreciarmos os sabores, foram-nos sendo servidos verdadeiros regalos ao olhar e ao palato.

Começámos com uma entrada de alheira, grelo e gema de ovo a 63 graus, numa combinação perfeita de sabores e texturas que nos pôs de sobreaviso quanto à qualidade da refeição. E o que veio a seguir não nos defaudou.

Começámos com um surpreendente filete de robalo e duas texturas de cove flor e continuámos com o prato forte da refeição, nada menos do que uma interpretação de um prato típico desta zona: a vitela à Lafões, mas que veio para a mesa com o toque do autor, a saber: lombinho de vitela à Lafões, aligot de Queijo da Serra, cogumelos selvagens salteados, rebentos de mostarda e beterraba desidratada.

Para finalizar este opíparo almoço, foi-nos servido um pudim Abade de Priscos e maçã verde, em que uma vez mais as texturas e o casamento de sabores o elevaram a um patamar acima.

O Paço dos Cunhas muda várias vezes de menú ao longo do ano e apostou na cozinha de autor. “O desafio que nos foi feito foi o de fazermos uma cozinha de autor porque já temos um restaurante aqui perto, a Quinta de Cabriz, onde confecionamos comida tradicional beirã”, afirma o Chef Henrique Ferreira.

O Paço dos Cunhas serve menús executivos aos almoços por 12 euros. Este não é um restaurante que se recomenda. É um restaurante que consideramos imprescindível!

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Jorge Montez (texto) Miguel Montez (imagem): Jorge Montez nasceu e fez-se jornalista em Lisboa, mas quando o século ainda era outro decidiu mudar-se de armas e bagagens para Viana do Castelo. É repórter. Viveu três meses em Sarajevo quando os Balcãs estavam a aprender os primeiros passos da paz, ouviu o som mais íntimo da terra na erupção da Ilha do Fogo e passou cerca de um ano pelos caminhos do Oriente.
Miguel Montez - Mesmo quando não está com a máquina pensa nas cores e nos enquadramentos. A fotografia é paixão e vai ser profissão. É curioso por natureza. Gosta de conhecer locais e pessoas e delicia-se quando descobre sabores novos. Este é um projeto à sua medida. Já foi voluntário no estrangeiro e tocou em festivais de música.

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