Portugal de Lés a Lés

 

Na ponte do diabo batizam-se as crianças no ventre

Ilustração de Mário Vasconcelos

A fronteira entre Vieira do Minho e Montalegre faz-se também pelas águas do rio Rabagão. Em Ruivães, a ponte românica de Misarela permite o abraço dos dois concelhos. Esta é a ponte de todos os assombros e também dá pelo nome de Ponte do Diabo.

Em Frades, lugar da freguesia de Ruivães, foi o próprio Diabo quem, à meia-noite, construiu a ponte de Misarela. Conta-se que o fez a pedido de um fugitivo, que lhe vendeu a alma para que o ajudasse a passar para o outro lado. Tempos depois, arrependido, quis-se reconciliar com Deus e confessou-se. O padre, querendo resgatar a alma perdida, fez como ele e à meia-noite pediu para atravessar o Rabagão. O Diabo apareceu-lhe, fez surgir do nada a ponte e já esfregava as mãos de contente quando sentiu no corpo a água benta que o clérigo trazia. O Diabo desapareceu, a ponte ficou e a história do milagre espalhou-se pelas aldeias.

Ainda hoje, se uma mulher não consegue conceber 18 meses depois do casamento ou se teme problemas durante a gravidez, deverá estar à meia noite com o seu companheiro na ponte de Misarela e esperar pelo primeiro desconhecido que apareça para que este lhe benza o ventre com as águas, agora santas, do Rabagão.

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Jorge Montez: Nasceu e fez-se jornalista em Lisboa, mas quando o século ainda era outro decidiu mudar-se de armas e bagagens para Viana do Castelo. É repórter. Viveu três meses em Sarajevo quando os Balcãs estavam a aprender os primeiros passos da paz, ouviu o som mais íntimo da terra na erupção da Ilha do Fogo e passou cerca de um ano pelos caminhos do Oriente.
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