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Falcoaria portuguesa também é Património Imaterial da Humanidade

falcoaria portuguesa

A falcoaria portuguesa passa a integrar desde hoje a lista de Património Cultural Imaterial da UNESCO, juntando-se assim a outros 13 países onde a sua prática já era classificada.

A candidatura portuguesa promovida pela Câmara Municipal de Salvaterra de Magos foi hoje aprovada em Addis Abeba, capital da Etiópia, apenas dois dias depois de o barro negro de Bisarães também ter sido classificado como Património da Humanidade.

Uma “das mais antigas relações entre o homem e a ave”, a prática da falcoaria tem já quatro mil anos. Em Portugal, o seu expoente está em Salvaterra de Magos, onde a família real caçava e onde mandou erigir a Falcoaria Real. De traça pombalina, o edifício esteve em ruínas, tendo sido recuperado pela edilidade local como um “museu vivo”.

A Associação Portuguesa de Falcoaria, que integrou juntamente com a Universidade de Évora e a Entidade Regional de Turismo do Alentejo e Ribatejo a comissão de candidatura, afirma que “o reconhecimento hoje atribuído à Falcoaria em Portugal deve, por isso, ser razão de orgulho não apenas para todos os falcoeiros nacionais mas, também, para todos os cidadãos deste país que vêm, nesta decisão da UNESCO, um reconhecimento claro à sua cultura e identidade nacionais. Hoje, mais que nunca, é necessário identificar, preservar e cultivar estes valores para futuro”.

Em comunicado assinado pelo seu presidente, Pedro Afonso, a associação afirma: “Hoje, Portugal vê a sua prática reconhecida em conjunto com Itália, Alemanha, Paquistão e Cazaquistão. O Dossier Falcoaria corresponde assim à mais vasta nomeação na história da convenção UNESCO englobando agora 18 países. O Dossier: “Falcoaria” demonstra como este método de caça ancestral corporiza a riqueza cultural, criatividade e diversidade em vários locais do globo e como pode, até, ter um papel de relevo na criação de um ambiente de cooperação, tolerância e harmonia entre nações que se unem em torno de paixões comuns”.

Já o presidente da Câmara Municipal de Salvaterra de Magos, Hélder Manuel Esménio, afirmou, em Addis Abeba, que “esta certificação pela UNESCO será com certeza mais uma oportunidade para promover o País, o Ribatejo e, em particular, o concelho de Salvaterra de Magos, tornando-o num apetecível destino turístico, onde a falcoaria se alia à natureza e ao Rio Tejo, permitindo ainda o desenvolvimento de atividades que reforcem a identificação da população local com a sua história e com o seu património material e imaterial, mantendo viva esta prática milenar que é a caça com falcão e que em Salvaterra tem já séculos de existência”.

O que é a falcoaria?

A falcoaria é descrita como sendo a parceria entre o homem e a ave de presa com o intuito de caçar presas selvagens no seu maio natural e como a mais leal de todas as formas de caça, uma vez que permite à presa “competir” com a ave, possibilitando-lhe hipóteses de sobrevivência que não existem noutra arte venatória praticada pelo homem.

A falcoaria é caracterizada pelos baixos índices de captura e, consequentemente, por um equilíbrio do ecossistema em que intervém. O sheik Zayed bin Sultan Al Nahyan sublinhou a este propósito: “não é o que caças que é importante; é aquilo que deixas para trás”.

Os falcoeiros utilizam fundamentalmente falcões, mas também açores e águias.

Originária do Médio Oriente, a falcoaria espalhou-se pela Europa e pela Ásia. Hoje em dia é Património da Humanidade numa candidatura que em 2010 juntou pela primeira vez onze países. Desde essa data, a sua prática em vários países foi sendo considerada Património Cultural Imaterial. A sua prática em Portugal juntou-se hoje a essa lista.

 

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Jorge Montez: Nasceu e fez-se jornalista em Lisboa, mas quando o século ainda era outro decidiu mudar-se de armas e bagagens para Viana do Castelo. É repórter. Viveu três meses em Sarajevo quando os Balcãs estavam a aprender os primeiros passos da paz, ouviu o som mais íntimo da terra na erupção da Ilha do Fogo e passou cerca de um ano pelos caminhos do Oriente.
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