A Casa de Santo Antão – Pampilhosa da Serra
A Casa de Santo Antão, em Padrões, Pampilhosa da Serra, é um daqueles locais onde nos podíamos ir deixando ficar. Ampla e aberta à luz, com piscina e zonas exteriores sombreadas, foi toda ela pensada para o conforto dos hóspedes.
A nossa visita foi posterior ao incêndio de 17 de junho. Com esta série de reportagens, mos-tramos que continua a ser possível ter boas experiências na zona afetada. Fazer turismo também pode ser uma forma de solidariedade
Não há uma segunda oportunidade para causar uma boa primeira impressão e Leonor Coelho e José Armando Henriques, os proprietários da Casa de Santo Antão, sabem-no bem. Por isso, o hóspede é recebido numa sala com pormenores arquitetónicos que deixam quem entra a pensar; “acertámos”. Na sala com uma ampla janela alta, a luz entra uniforme e incide sobre uma árvore, o antigo forno da casa e uma mesa de snooker. O sorriso franco de Leonor Coelho faz o resto.
E há medida que se vai conhecendo a casa, essa impressão torna-se numa certeza que os dias confirmarão. Os quartos são confortáveis, a casa tem todas as condições de conforto para os dias de calor e também para os invernosos e até tem um pequeno museu etnográfico.
Os carrinhos de choque e a ilha de Padrões
A casa está situada numa aldeia serrana, de casario disperso e onde o verde impera. O jardim e a piscina dão para a horta e estão rodeadas de árvores de frutos, de oliveiras e castanheiros. Aqui e ali há redes para passar o tempo e zonas de conforto. Lá em baixo, no vale, o rio Unhais junta-se ao Zêzere e juntos formam a bela ilha de Padrões, acessível por um estradão deixado pela construção da barragem. A ilha é grande e verde. Aqui, as águas dos rios fazem um jogo de cores com as encostas arborizadas.
Na aldeia existe a única casa brasonada da Pampilhosa da Serra e aquele que será o mais importante exemplo de arte religiosa de todo o concelho, a pequena capela de Nossa Senhora da Boa Memória de altar barroco (a igreja matriz de Pampilhosa da Serra foi consumida pelo fogo no início do século XX e apenas se salvou um retábulo seiscentista). Cristina Antão Baptista, que vive na quinta, gosta de mostrar a capela e conversar com quem por lá passa.
E numa aldeia serrana, de gentes que conhecem a dureza da vida, surpreende a simpatia com que somos recebidos e o sorriso que se expande dos lábios aos olhos. E se por aqui se passar em outubro ou novembro, é ainda possível ver carroceis, carrinhos de choque ou outras diversões. Não é festa, é trabalho. Para além da agricultura, a principal atividade da aldeia são as diversões de feira. E não havendo aqui emigrantes, há muitos que passam o ano fora nas festividades e apenas regressam nesses meses que aproveitam para fazer a manutenção das diversões.
Uma casa de família
Leonor e José Armando decidiram deixar definitivamente Lisboa e fazer vida na serra. Trouxeram os filhos e começaram o projeto da casa de turismo rural que abriu em fevereiro de 2017. E este foi um projeto de amor.
Leonor Coelho indica-nos os quartos onde dormimos e diz-nos: “Foi neste quarto que o meu marido nasceu”. Fica assim explicado todo o carinho colocado na recuperação da casa e que encanta o hóspede desde o primeiro momento”.
Quando a geração de José Armando herdou a casa, esta estava já degradada, por não ter sido habitada nos últimos tempos de vida da sua mãe. José Armando Henriques (a sua geração é a única dos Antão que não tem o apelido da família), arquiteto e com empresa de construção, tomou mãos à obra para manter de pé a casa onde tinha nascido. Mas deparou-se com tantos problemas que resolveu remodelar por inteiro o edifício.
É, por isso, uma casa a um tempo nova e com história aquela que abre as portas aos hóspedes. Na Casa de Santo Antão temos todos os elementos de conforto modernos e o sentir da história do edifício que nos é dado por leves pormenores. As fotos da família no corredor, o forno da sala de entrada e a exposição etnográfica com peças na maioria pertencente à família Antão.
E com o tempo, o hóspede vai descobrindo muitos exemplos de reutilização de materiais. Dos bancos aos candeeiros, das mesas dos quartos ao chuveiro da piscina, são pequenos toques que dão caráter à casa e definem o projeto: a Casa de Santo Antão foi feita com amor.
Um pequeno-almoço como deviam ser todos
Os pequenos-almoços são servidos a partir das 9 horas, porque todos os dias Leonor Coelho faz 50 quilómetros para pôr o pão na mesa dos hóspedes. Os pequenos-almoços da Casa de Santo Antão são épicos e à base de produtos regionais.
Para além do pão, o hóspede depara-se com filhozes ou talaças acabadinhas de fazer, bolo cozinhado nessa manhã, doces caseiros, fruta de sabor apanhada na aldeia, queijos locais, mel de urze também da Pampilhosa da Serra.
Esta é, portanto, uma refeição para ser degustada lentamente, com a calma que a Casa de Santo Antão faz entrar em nós.
À entrada, Leonor Coelho avisa os hóspedes que pode servir refeições, mas que terão de ser encomendadas de véspera. O nosso concelho é que o façam. No território de Pampilhosa da Serra há bons restaurantes, podendo-se escolher entre a comida regional franca e saborosa ou o trabalho do chef Flávio Silva no hotel Villa da Pampilhosa, mas o que Leonor Coelho serve não pede meças a ninguém.
Nascida em Lisboa mas com raízes serranas, Leonor Coelho começou a cozinhar quando ainda tinha de se pôr em cima de um banco para chegar ao fogão. E o que põe à mesa dos hóspedes é o que de melhor a gastronomia serrana tem para oferecer.
A estadia na Casa de Santo Antão custa 55€ ou 75€ por quarto com pequeno-almoço incluído, consoante a época do ano. Pode consultar mais informações na página da casa de campo.
Passamos três dias inesquecíveis. A simpatia dos proprietários, a comodidade das instalações, os manjares deliciosos que nos levam a tempos idos e a beleza circundante , deixaram-nos a promessa de lá voltarmos . Obrigada Leonor e marido .