A lenda de Santa Maria de Cárquere – Resende

Onde se pergunta quem foi, afinal, o primeiro rei de Portugal.




Falamos de uma história de novecentos anos, mais pózinho, menos pózinho, quando Portugal era ainda uma miragem.

Afonso VI de Castela e Leão, “Imperador de toda a Hispânia”, quando do matrimónio de sua filha ilegítima D. Teresa com o Conde D. Henrique da Borgonha, tinha criado o Condado Portucalense, oferecendo-o como dote a sua filha.

Os Condes de Portucale governavam este cantinho da Península, vassalos do Rei de Castela.
Ora vivia na corte um fidalgo, Egas Moniz de seu nome, pertencente à nobre família de Ribadouro. Homem de toda a confiança, solicitou aos seus amos que lhe permitissem a honra de ser aio do futuro governante. E assim se fez quando nasceu Afonso Henriques que veio a ser o único descendente masculino sobrevivente de Henrique e Teresa.

Pobre Afonso! Dizem alguns que terá nascido fraco, com as perninhas tortas – as más línguas diziam até que era corcundinha. Temeu-se pela sua vida.

Era este bebé o futuro Conde, o futuro chefe militar? Que futuro para o Condado! Que grande tristeza!
Egas Moniz era profundamente dedicado ao pequeno. Foi seu tutor, amigo, mestre d’armas… O bem estar do amo era a sua preocupação maior. Devoto da Virgem Maria, rezava-lhe amiúde, pedindo pela saúde da criança que tanto amava.

Teria Afonso uns 5 anos de idade, quando sonhou Egas com Nossa Senhora. Esta ordena-lhe:

-Vai, Egas Moniz! Leva Afonso à minha igrejinha de Cárquere (Resende) e aí será curado!

Egas pôs-se a caminho com o jovem infante, cheio de esperança.

Colocado o pequeno no altar, terá então procurado uma imagem escondida da Virgem, acendido 2 velas e esperado, murmurando as suas preces.

O tempo, nesse tempo sem relógios, passa. Egas adormece, cansado.

Uma das velas cai. Assustado, o infante levanta-se com esforço, evitando as chamas e a queimadura certa. Curado sim, com a ajuda da Nossa Senhora.

E regressam à corte, aio e amo.

O povo rejubilou!!!! O Conde D. Henrique, agradecido pela graça concedida, manda construir, junto à igreja, o Mosteiro de Santa Maria de Cárquere.

Egas Moniz foi obreiro do milagre. Mas será que foi mais do que isso?

É que se conta, no rol de histórias que passam, que o infante, frágil e enfezado, não terá resistido à primeira infância, deixando o domínio sem herdeiros masculinos… E que Egas Moniz, combinado ou não com o Conde D. Henrique, terá trocado a criança morta por um dos seus próprios filhos, assegurando assim a continuação do Condado Portucalense…

Quem sabe?

Sabe-se que “Afonso” cresceu e se fez homem. Alto e forte, segundo estudos feito no seu túmulo, dizia-se a que a sua espada era pesadíssima e que nenhum outro poderia manejá-la.

E não queria ser Conde! Queria ser Rei! E, para tal, combateu os do seu próprio sangue (?), com Egas Moniz sempre a seu lado.

Conforme se diz noutro relato, no auge da guerra pela independência de Portugal, Egas Moniz faz uma promessa de cavaleiro ao rei de Castela e Leão, Afonso VII, em nome de Afonso.

Afonso não cumpre! Então Egas Moniz e a família viajam a Toledo, apresentando-se ao Rei de Castela e Leão, todos de corda ao pescoço, oferecendo a vida.

Afonso VII, condoído, perdoa… E os Moniz voltam para Portugal. Para seu rei…ou seu parente chegado?
Ao falecer Egas, foi sepultado junto ao seu Paço de Sousa, Penafiel. Posteriormente, foi transladado para o interior do Mosteiro. É então que, para espanto de todos, se viu serem os ossos das suas pernas extremamente longos, transformando-o aos olhos das gentes num homem descomunal, um verdadeiro gigante para a época.

Aio ou pai do primeiro Rei de Portugal, Egas Moniz foi, sem dúvida, um homem lendário!

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